28.4.07

Forte de S. João Baptista da Foz, Porto.


Crítica e Elogio.

Porque ambos não devem deixar de ser feitos.
Aqui há dias consultando a agenda cultural de Torres Vedras, reparei que 2 entidades iriam organizar um "vasto" programa relacionado com as Invasões Francesas, que incluía uma conferência, um concerto da Banda da GNR e uma visita a Elvas e a Olivença?!?!
Quanto à vastidão ficou logo arrumada, depois a conferência mereceu-me críticas e muitas, mas guardo-as para mim, prefiro o elogio de cada vez mais as pessoas estarem conscientes da importância deste período e procurarem com estas iniciativas a sua divulgação. Pena é que não se preocupem com as escolas, ou mesmo com a população em geral e que a mesma meia dúzia do costume esteja presente neste tipo de eventos.
O passeio é para mim de tal modo absurdo procurá-lo integrar nesta vastissíssima programação, que não mais lhe darei importância.
O que mais faz vir ao de cima a minha veia crítica é o facto de a banda da GNR dar um concerto, não sendo por aí que a coisa corre mal, antes pelo contrário, é a este tipo de iniciativas que normalmente mais gente acorre e por isso devem ser estimuladas.
No entanto ao consultar o programa, constato que mais uma vez os autores não portugueses tomam a primazia e que com a excepção de Tchaikovsky, nenhum deles é contemporâneo dos acontecimentos. Então este não passa de mais um concerto e só figura no vastíssimo programa para fazer número.
Uma simples pesquisa faria ver aos senhores da organização que existem muitos e bons autores no período, portugueses e não só e que no interesse, até de se fazer o retrato da época, por aí se deveria começar.
Uma última nota, as 4 invasões de Portugal começaram em Novembro de 1807, prolongando-se o período de luta até 1814. Porquê comemorar-se só 1810 e a terceira invasão que constituí apenas um dos episódios desta guerra? Porquê continuar a ignorar as outras 3 invasões?
Nada de importante se terá passado?

26.4.07

Forte de São João Baptista da Foz - Porto.

Embora a defesa da barra do rio Douro fosse uma necessidade premente desde os tempos da fundação da nacionalidade, a evolução da arte da guerra acarretou que a mesma sofresse alterações ao longo dos séculos. A ultima e talvez a mais importante ocorreu durante o período designado como Guerra da Restauração, que trouxe a necessidade da construção de um baluarte capaz de resistir às peças de artilharia.
Este tipo de fortaleza baseava-se nos desenhos de Vauban, um engenheiro francês, que introduziu uma verdadeira revolução nas construções defensivas, tornando-as capazes de resistir aos mais ferozes assaltos. No Porto, Charles de Lassart, também francês e engenheiro mor do reino, começou em 1642 as obras do que viria a ser conhecido como forte de São João Baptista da Foz.
Não sendo de estranhar no nosso país, as obras arrastaram-se, quer por dissenções entre mestre de obra e a câmara do Porto, quer por falta de fundos. Mas a invasão do Minho por tropas espanholas tornou absolutamente imperiosa a construção e finalmente em 1653, deram-se por concluídos os trabalhos.
Era a segunda mais importante do país e a chave para as províncias do Norte litoral, no entanto em 1807 - 1808, não foi ocupada pelos franceses por o tratado de Fontainebleau consagrar que o Entre-Douro e o Minho ficariam para a rainha da Etrúria, sendo por isso tropas espanholas a formar a sua guarnição.
O episódio mais significativo e aquele que mais nos concerne vai surgir no dia 6 de Junho de 1808, quando o sargento mor Raimundo José Pinheiro, na sequência da retirada do general Ballesta, iças as cores nacionais no forte, mas a administração pró-francesa, que ainda permanecia em funções, pouco depois manda retira-las, voltando a desfraldar a bandeira francesa.
Só dias mais tarde e perante a revolta de todo o Norte do país é que alguns notáveis, entre os quais o bispo da cidade, proclamam uma junta contra o governo francês e fazem içar novamente a bandeira nacional no forte. Um sinal que é visível para os barcos ingleses que constantemente patrulhavam as nossas costas e que torna possível o envio de missivas para Londres, a pedir auxílo e, para o Brasil a dar conta da revolta.

24.4.07

Curiosidades.

As "heranças" da Primeira Invasão francesa são muitas e variadas, persistindo algumas até aos nossos dias. A culinária constitui um desses aspectos que não se deve ignorar, sendo mesmo uma mais valia para as regiões que se podem orgulhar de receitas que já existiam à quase 200 anos.
A "canja de galinha à doentes" é só um primeiro exemplo, conta-se na Figueira da Foz, que nos primeiros dias de Agosto, quando Wellesley desembarcou em Lavos, estabelecendo aí o seu quartel general durante cerca de 8 dias - o tempo que demorou para todas as tropas chegarem a terra - lhe foi servida esta sopa.
Poderia ser gabarolice da zona, mas o facto é que em cartas dirigidas à sua esposa, "Kitty" Pakenham, aparece a descrição da dita sopa e que constaria para além da galinha, orelha e toucinho de porco, enchidos, couve, massa, cebola e, claro está, sal.
Cada conviva teria junto de si uma malga para a sopa, um prato para as carnes servidas à parte e outro com hortelã de que cada um a gosto se serviria. Para acompanhar a refeição um belo vinho branco e para a sobremesa e por recomendação do próprio Wellesley, uma simples laranja.
Não vai ficar por aqui a gastronomia das invasões e já agora se alguém tiver mais receitas aproveite para as divulgar neste singelo espaço.

18.4.07

Convite.

No dia 20 de Abril pelas 21h:30m, realizar-se-á uma conferência no Museu do Ciclismo, nas Caldas da Rainha, subordinado ao tema da Primeira Invasão.
Quem já presenciou outros eventos em que estivemos presentes, sabe que faremos uma abordagem a diversos aspectos da mesma, desde as batalhas, às pequenas "estórias" locais que fizeram a História geral.
Não faltem, a entrada é gratuita. Resta dizer que o museu localiza-se mesmo em frente do parque.

Olhão 2.

Os primeiros sucessos entusiasmam os olhanenses comandados pelo coronel Lopes de Sousa, mas horas difíceis ainda estavam para vir. Apesar de já possuírem armas em quantidade razoável, faltava a a experiência e o treino militar aos homens, bem como faltavam os oficiais.
Nos dias seguintes houve novamente que fazer frente aos franceses, que avançavam vindos da direcção de Vila Real de Santo António. Rapidamente organiza-se a defesa da aldeia de Moncarapacho, montando-se igualmente uma emboscada na ponte velha, nas proximidades de Quelfes, no entanto, estes preparativos foram denunciados dada a falta de disciplina deste "exército" improvisado, mas altamente motivado.
O dia acaba com mais uma vitória, pois os franceses alertados pelo barulho retiram, mas sofrem algumas baixas. A perseguição movida só termina no Sítio da Meia Légua, local assinalado na estrada nacional 125 e de onde os perseguidos só a custo conseguem escapar, deixando muitos homens caídos.
Após uma reunião com o capitão Mestre, o coronel Lopes de Sousa, decide ir com o mesmo de caíque a Ayamonte pedir novamente a ajuda dos ingleses, mas também dos espanhóis. Aproveitando a viagem levou consigo os quase 100 franceses que tinham sido aprisionados e para quem escasseava a comida em Olhão. Sem qualquer militar experiente a comandá-los, os olhanenses viram-se para o padre Malveiro, que sentido o receio das gentes manda difundir boatos de que os ingleses já estariam a ajudar os revoltosos.
Antevendo um ataque em força, a população dormia nos barcos e na ilha do Coco. Maurin, o general que tinha a seu cargo a zona, resolve finalmente actuar no dia 19, aproximando-se de manhã pelo Norte e em todos os momentos julga ver ou o brilho das armas inglesas, ou os uniformes dos mesmos. Fosse pelo que fosse, o certo é que em vez de atacar em força, os franceses decidiram tentar uma solução negociada.
O desepero começou a apoderar-se dos olhanenses, pois os líderes da revolta ainda não haviam regressado e pela tarde já muitas vozes eram a favor da rendição, mas para sua grande surpresa, os franceses já não estavam no horizonte, tendo que retirar apressadamente para Faro, onde a sua ausência motivou a revolta dos habitantes.
Já não conseguem reocupar a capital do Algarve e, no dia 22 outro destacamento volta a tentar a sorte em Olhão, mas sendo novamente derrotados, roubaram o que puderam da capela do Santo Cristo em Moncarapacho.
Em Faro surge entretanto uma Junta Suprema onde consta o nome de um olhanense - Miguel do Ó - proprietário de um caíque baptizado como "Bom Sucesso". A 2 de Julho o pânico instala-se perante os boatos da vinda de uma divisão francesa, mas os olhanenses acorrem em grande número para ajudar na defesa da cidade. Terá sido este o factor decisivo para que fosse o já referido caíque a levar a notícia ao Brasil, da restauração do Algarve.
17 olhanenses partem no dia 6 de Julho, fazendo apenas uma curta paragem na Madeira, onde recebem mais um tripulante e prosseguem a viagem que terminará, depois de muitas agruras, no dia 22 de Setembro no Rio de Janeiro. D. João recebe-os com muita emoção e atribui-lhes algumas honrarias.
A 15 de Novembro de 1808, um decreto reconhece a importância desta revolta ao ordenar que doravante a localidade tome a designação de Vila do Olhão da Restauração e D. Francisco de Melo da Cunha Mendonça de Menezes, que pela sua lealdade foi nomeado presidente do conselho de regência após expulsão dos franceses, recebeu ainda o título de Marquês de Olhão.
Aos olhanenses é também permitido o uso de uma medalha com a letra O e a inscrição "Viva a Restauração e o Príncipe Regente Nosso Senhor". Os embarcados regressam a Portugal numa nova embarcação, pois D. João decretou que o caíque deveria ser conservado no Rio em memória do seu feito.

14.4.07

Olhão 1.

O dia 16 de Junho de 1808, assume um particular significado para Olhão, uma vez que foi a primeira localidade em Portugal a efectivamente assumir a sua revolta contra o governo francês do general Junot. Outras revoltas ocorreram no Norte, nomeadamente após a retirada da tropa espanhola, mas o receio de represálias levou a um discreto desaparecimento dos simbolos nacionais.
No Algarve, em que a presença francesa era dimínuta e, onde também os espanhóis retiram de volta ao seu país, a revolta poderia triunfar com alguma tranquilidade, desde que de Lisboa não fossem enviados mais efectivos.
Inicialmente como em todo o país, as autoridades recebem bem os franceses, mas os sucessivos impostos lançados por esta administração estrangulam a já de sí muito depauperada economia. Surgem portagens para quem queria sair da região pela Serra do Caldeirão, uma taxa por cada embarcação, bem como a obrigação de as mesmas possuírem um número que as identificasse, uma percentagem do pescado capturado, entre outros.
Também aqui foi confiscado algum do ouro e da prata das igrejas, mas o que terá causado maior celeuma foi a pena de morte aplicada aos contrabandistas. Considerando que em todos os portos existia um grande número dos mesmos, esta não foi uma iniciativa bem aceite e sobretudo, porque os próprios franceses dedicavam-se à mesma actividade.
Um facto curioso é o de os olhanenses terem de se deslocar a Faro para efectuar os pagamentos dos impostos, podendo constatar que os farenses recebiam um tratamento bem mais tolerante, pois assim garantiam os franceses a sua boa vontade e também que muitos afrancesados estavam a colaborar com os mesmos. Assim começaram a chamar "carecas" aos seus vizinhos.
Dos vigaristas também se passou a dizer que "tinham mais artes que Napoleão". De qualquer modo e com um crescente sentimento de ódio, Olhão acolhe uma reduzida guarnição, que depois da retirada espanhola, é manifestamente insuficiente para continuar a calar a revolta.
A rivalidade entre Olhão e Faro já era nesta altura secular, agravara-se pelo já descrito, agora bastava um lançar fogo ao rastilho que foi crescendo, quer com a notícia da revolta em Espanha, quer com outras em Portugal. Um ultimo edital de Junot, afixado a 11 de Junho, apela à calma e convida os portugueses a voluntariarem-se para o exército francês.
Mas o que ditou finalmente a revolta foi o facto de no dia 12 o altar do Compromisso Marítimo, situado na igreja matriz, possuir para além dos símbolos religiosos, as armas da família real. Como tinha sido ordenado, estas estavam cobertas por um pano, no entanto o escrivão João da Rosa resolve pô-las a descoberto para os festejos de Santo António. Logo um grande alarido se levantou entre a população e à noite já uma bandeira tinha sido hasteada.
Nada mais ocorre até ao dito dia 16, quando o coronel José Lopes de Sousa ao ver que alguns pescadores tentavam ler o edital afixado na porta da igreja, rasga-o e com o seu discurso patriótico consegue a adesão imediata à causa nacional. A guarnição é aprisionada, os poucos soldados portugueses que estavam na fortaleza da Armona também se juntam aos revoltosos fornecendo artilharia, o mesmo não se passa com os da fortaleza de S. Lourenço.
João Pincho, parte de Olhão para Ayamonte com o objectivo de entrar em contacto com uma esquadra inglesa, pelo caminho encontra o capitão Sebastião Martins Mestre, que a 13 de Junho com a ajuda de alguns populares, ocupara a fortaleza de S. João, na Barra de Tavira. Os ingleses não fornecem qualquer tipo de ajuda, mas a junta de Ayamonte entrega-lhes algo como 130 espingardas.
De Faro vêm então alguns padres, enviados pelo general Maurin, comandante da zona e que traziam uma mensagem de paz e perdão para todos os que se tinham revoltado. Os olhanenses recusam e são ameaçados com terríveis represálias. Para isso são convocadas as guarnições de Vila Real de Santo António e de Tavira, vindo estes últimos de caíque pela ria formosa.
O Coronel Lopes de Sousa soube destas movimentações por correios que foram interceptados e ao constatar que os franceses não iriam passar longe de Olhão, foi com algumas lanchas ao seu encontro e no local da barra nova, apanhou-os desprevenidos, talvez por terem sido confundidos como simples pescadores, o que é certo é que a abordagem decorreu quase sem troca de tiros e no final 80 soldados de França estavam em poder dos revoltosos.

12.4.07

José Francisco Miguel António de Mendonça (1725-1808).

D. José foi o quinto Patriarca de Lisboa, na altura da primeira invasão. Nascido na família dos condes de Val dos Reis, mas não sendo o primogénito, foi-lhe destinada uma carreira eclesiástica e é nesse sentido que prosseguem os seus estudos, finalizados com uma licenciatura em direito canónico.
Foi cónego, monsenhor e principal na Sé Patriarcal, até ser nomeado para o lugar de D. Francisco de Lemos, como reitor da Universidade de Coimbra, cargo que ocupa entre 1779 e 1785 e onde deveria prosseguir com as reformas de que o seu antecessor fora encarregue pelo Marquês de Pombal e que tardavam a arrancar em pleno.
Em 1786 é designado Patriarca de Lisboa, mas só em 1788 é que Pio VI o confirma como cardeal, dada a tradição de só o fazer no primeiro consistório após a elevação. É ainda o capelão mor da rainha D. Maria I.
Em Novembro de 1807, com 82 anos de idade e já doente, não acompanha a família real na fuga para o Brasil, permanecendo na cidade. Junot vê na sua presença um trunfo indispensável para o seu governo e mal começam as primeiras revoltas, após a substituição do conselho de regência e das bandeiras nacionais, ordena-lhe que escreva diversas pastorais apelando à calma, eis um exemplo:
Não temais, amados filhos, vivei seguros em vossas casas e fora delas; lembrai-vos que este exército é de sua majestade o imperador dos franceses e rei de Itália. Napoleão, o Grande, que Deus tem destinado para ocupar e proteger a religião e fazer a felicidade dos povos(...).
Com o que Junot não contava tão cedo era a morte do Patriarca, em Fevereiro de 1808, pois se os portugueses em geral respeitavam esta figura pela posição que ocupava na hierarquia da Igreja nacional e procuravam nas suas palavras o sossego que os franceses não lhes permitiam, a sua morte vai libertá-los desse fardo e a revolta agudiza-se de semana para semana.

4.4.07

O dispositivo francês nos primeiros meses de ocupação.

O tratado de Fontainebleau garantiu aos franceses uma serena ocupação de Portugal e a concentração dos seus efectivos em locais estratégicos para a defesa de Lisboa e das suas linhas de comunicação. Assim guarneceram a fortaleza de Peniche, protegendo um local propício para desembarques demasiado perto da capital e o convento de Mafra, também pela sua localização e pelo seu tamanho, onde um grande número de soldados se podiam instalar.
As localidades de Torres Vedras e Bombarral, por estarem em importantes nós viários, tinham em permanência 1 ou mesmo 2 regimentos, finalmente as Caldas da Rainha, devido ao seu hospital termal, assistiam a um autêntico vaivém de franceses que aí iam curar as suas doenças de pele.
Ainda em outras zonas do país, as fortalezas de Almeida e de Elvas, importantes na defesa das fronteiras,estavam igualmente guarnecidas. Em Faro e no Porto, pequenos destacamentos faziam a ligação com a tropa espanhola e em Coimbra outro destacamento garantia o chamado "caminho de posta", ou seja, a estrada por onde seguia o correio para França e para onde eram encaminhados os reforços. Chegou mesmo a funcionar durante largos meses um hospital militar, tratando os soldados esgotados pela caminhada desde Baionne.
Para a tropa espanhola reservou-se a missão de manutenção da paz em todo o restante território nacional, com as suas três divisões:
- A divisão do general Taranco com 6584 homens, depois de algumas dificuldades causadas pelo terreno acidentado e que só permitiram a ocupação do Porto a 13 de Dezembro de 1807, controla o Norte do país. Inesperadamente este general vem a falecer a 27 de Janeiro do ano seguinte, sucedendo-lhe o general Ballesta.
- A divisão do general Solana, que percorrera um caminho semelhante ao dos franceses, , acaba por estabelecer o seu quartel general em Setúbal de onde controla todo o Sul. Era composta por 9728 homens.
- A ultima das divisões, comandada pelo general Carrafa, vê os seus efectivos divididos, parte dos 9757 homens, ficam na zona de Lisboa com as tropas francesas, outra parte vai reforçar a tropa que estava no Porto. Saliente-se que os espanhóis são bem recebidos pelos portugueses, desconhecedores da aliança.
Apesar de Junot, general em chefe do exército, não poder dispor da totalidade dos seus efectivos durante largas semanas, os primeiros meses de ocupação foram tranquilos. Ainda havia comida suficiente e as autoridades locais tinham recebido instruções de D. João para receberem bem os franceses de modo a obstar males maiores.
Todo o equipamento arruinado pela travessia da península pôde ser substituído e, na sequência da mudança de designação de Corpo de Observação da Gironda para Exército de Portugal, os homens receberam mesmo uniformes extra e garrafas de vinho, entre outros objectos.
Tranquilidade foi a palavra de ordem entre Novembro de 1807 e meados de Janeiro de 1808, altura em que surgiram as primeiras revoltas, mas só depois de Junho é que as mesmas eclodiriam em força.

1.4.07

Marcos Noronha e Brito (1771-1828).

O oitavo Conde dos Arcos foi o último vice-rei do Brasil, tendo exercido o cargo de Agosto de 1806 a 22 de Janeiro de 1808, altura da chegada da família real, que ao tansferir o governo para a então colónia, tornou redundante a função.
D. João não se esqueçe dele e nomeia-o governador da Baía , onde Noronha e Brito estabelece a primeira tipografia, que imprimia o jornal "A Idade de Ouro do Brasil". Para além disso ordenou a construção da biblioteca pública e do teatro de S. João, concluiu as obras no cais da alfândega e criou uma linha de correio para o Maranhão.
Em 1817 participa na repressão da revolta Pernambucana e pouco depois ascende a ministro da marinha e ultramar, instalando-se novamente no Rio de Janeiro. Não acompanha o monarca no regresso, permanecendo em funções de governo até à independência em 1822, altura em que D. Pedro o demite, por exigência das tropas que não gostavam da maneira ele as tratava e, ordena igualmente o seu regresso a Portugal.


A condessa da Ega.

O 2º Conde da Ega, Aires José Maria de Saldanha, enviuvando em 1795, casou em segundas núpcias com D. Juliana Maria Luísa Carolina Sofia de Oyenhausen e Almeida, filha da notável Marquesa de Alorna.
Entre 1807 e 1808 o conde, recentemente regressado de Espanha onde fora ministro plenipotenciário, recebe de forma entusiástica os franceses e chega mesmo a tomar parte activa na nova admnistração liderada por Junot. O seu palácio, conhecido por da Ega ou Saldanha e onde estão hoje instalados os Arquivos Históricos Ultramarinos, sofre obras de embelezamento da fachada e interiores, sendo o cenário para grandes festas em honra dos novos governantes.
Junot era frequentador assíduo e encantado pela formosura de D. Juliana fez dela a sua amante oficial enquanto esteve em Portugal. Mas o idílio só dura até à convenção de Sintra, altura em que o casal se vê obrigado a fugir para França acompanhando os seus protectores, de Napoleão recebem uma pensão de 60.000 francos anuais, que gozam até à sua queda em 1814.
Em 1811, um tribunal condena os portugueses que estavam em França à morte, sentença que nunca seria aplicada e em 1823 outro tribunal anula estas sentenças permitindo o seu regresso a Portugal. O Conde opta por se manter afastado da cena política e vem a falecer em 1827. D. Juliana casa novamente com o Conde de Strogonoff, um russo e falece em S. Petersburgo no ano de 1864.
O palácio abandonado, serviu de hospital para as tropas anglo-lusas e depois como quartel general de Beresford, a quem D. João acaba por doar o edifício em 1820. A família só consegue reavê-lo após uma longa demanda em tribunal em 1838, mas dificuldades financeiras levam à sua venda.