18.4.07

Olhão 2.

Os primeiros sucessos entusiasmam os olhanenses comandados pelo coronel Lopes de Sousa, mas horas difíceis ainda estavam para vir. Apesar de já possuírem armas em quantidade razoável, faltava a a experiência e o treino militar aos homens, bem como faltavam os oficiais.
Nos dias seguintes houve novamente que fazer frente aos franceses, que avançavam vindos da direcção de Vila Real de Santo António. Rapidamente organiza-se a defesa da aldeia de Moncarapacho, montando-se igualmente uma emboscada na ponte velha, nas proximidades de Quelfes, no entanto, estes preparativos foram denunciados dada a falta de disciplina deste "exército" improvisado, mas altamente motivado.
O dia acaba com mais uma vitória, pois os franceses alertados pelo barulho retiram, mas sofrem algumas baixas. A perseguição movida só termina no Sítio da Meia Légua, local assinalado na estrada nacional 125 e de onde os perseguidos só a custo conseguem escapar, deixando muitos homens caídos.
Após uma reunião com o capitão Mestre, o coronel Lopes de Sousa, decide ir com o mesmo de caíque a Ayamonte pedir novamente a ajuda dos ingleses, mas também dos espanhóis. Aproveitando a viagem levou consigo os quase 100 franceses que tinham sido aprisionados e para quem escasseava a comida em Olhão. Sem qualquer militar experiente a comandá-los, os olhanenses viram-se para o padre Malveiro, que sentido o receio das gentes manda difundir boatos de que os ingleses já estariam a ajudar os revoltosos.
Antevendo um ataque em força, a população dormia nos barcos e na ilha do Coco. Maurin, o general que tinha a seu cargo a zona, resolve finalmente actuar no dia 19, aproximando-se de manhã pelo Norte e em todos os momentos julga ver ou o brilho das armas inglesas, ou os uniformes dos mesmos. Fosse pelo que fosse, o certo é que em vez de atacar em força, os franceses decidiram tentar uma solução negociada.
O desepero começou a apoderar-se dos olhanenses, pois os líderes da revolta ainda não haviam regressado e pela tarde já muitas vozes eram a favor da rendição, mas para sua grande surpresa, os franceses já não estavam no horizonte, tendo que retirar apressadamente para Faro, onde a sua ausência motivou a revolta dos habitantes.
Já não conseguem reocupar a capital do Algarve e, no dia 22 outro destacamento volta a tentar a sorte em Olhão, mas sendo novamente derrotados, roubaram o que puderam da capela do Santo Cristo em Moncarapacho.
Em Faro surge entretanto uma Junta Suprema onde consta o nome de um olhanense - Miguel do Ó - proprietário de um caíque baptizado como "Bom Sucesso". A 2 de Julho o pânico instala-se perante os boatos da vinda de uma divisão francesa, mas os olhanenses acorrem em grande número para ajudar na defesa da cidade. Terá sido este o factor decisivo para que fosse o já referido caíque a levar a notícia ao Brasil, da restauração do Algarve.
17 olhanenses partem no dia 6 de Julho, fazendo apenas uma curta paragem na Madeira, onde recebem mais um tripulante e prosseguem a viagem que terminará, depois de muitas agruras, no dia 22 de Setembro no Rio de Janeiro. D. João recebe-os com muita emoção e atribui-lhes algumas honrarias.
A 15 de Novembro de 1808, um decreto reconhece a importância desta revolta ao ordenar que doravante a localidade tome a designação de Vila do Olhão da Restauração e D. Francisco de Melo da Cunha Mendonça de Menezes, que pela sua lealdade foi nomeado presidente do conselho de regência após expulsão dos franceses, recebeu ainda o título de Marquês de Olhão.
Aos olhanenses é também permitido o uso de uma medalha com a letra O e a inscrição "Viva a Restauração e o Príncipe Regente Nosso Senhor". Os embarcados regressam a Portugal numa nova embarcação, pois D. João decretou que o caíque deveria ser conservado no Rio em memória do seu feito.