25.5.07

Curiosidades.

Dois vinhos portugueses já eram sobejamente conhecidos por toda a Europa, o do Porto e o da Madeira, fazendo mesmo parte dos hábitos das classes mais abastadas e mesmo de muitas cortes. Mas com a Guerra Peninsular, mais dois foram redescobertos pelos ingleses.
O primeiro era o vinho branco de Bucelas, muito apreciado pelo então general Wellesley, a tal ponto que ao regressar a Inglaterra levou consigo algumas garrafas, oferecendo-as de presente ao regente e futuro rei Jorge III. A partir daí houve um grande incremento das exportações, dado que o dito se tornou habitual na corte, mas já anteriormente era conhecido, uma vez que Shakespeare o designa como "Lisbon Hock".
O segundo dos vinhos era oriundo de Carcavelos, licoroso, era do agrado da tropa inglesa que durante muito tempo esteve estacionada na zona de Lisboa, ao levarem-no consigo fizeram dele um sucesso imediato, com grandes vendas durante muitos anos.
Ambos estes vinhos estão hoje em dia ameaçados, não tanto o de Bucelas uma vez que existem produtores conscientes das suas potencialidades e que procuram dar-lhe novo alento, mas no caso do de Carcavelos, essa recuperação torna-se praticamente impossível quando sabemos que os terrenos agrícolas, deram lugar às mais rentáveis urbanizações.
Hoje em dia ainda são produzidas quantidades muito reduzidas desse vinho generoso de Carcavelos, por isso se tiverem a sorte de encontrar uma garrafa, apreciem-na tal como Wellesley o faria.

23.5.07

Porque Junot nunca foi Marechal 1.

Campanha do Egipto, em 1787 os membros do Directório aceitam a ideia de Napoleão em levar a guerra para este território, persuadidos por um lado que a Inglaterra sofreria um rude golpe na sua expansão colonial e influênciados por Barras, que temia a crescente popularidade deste general depois das recentes vitórias em Itália.
Em Maio de 1798 a frota larga de Toulon, mas o mais interessante para esta história, não são as batalhas africanas e sim os escritos de Bourienne, secretário pessoal de Bonaparte, que nas suas memórias descreveu um episódio deveras significativo.
Tenho que recuar um pouco no tempo, para melhor poder explicar depois. O jovem Napoleão ascendeu muito depressa a general e desejava agora um casamento que o pusesse numa confortável posição financeira e social. Ao seu desejo juntou-se a vontade de Barras em torná-lo próximo, para assim poder contar com o seu apoio numa pretendida ascensão política.
Barras tinha uma amante, de seu nome Marie Josèphe Rose de Beauharnais, mas enamorando-se de outra mulher, tratou de a casar com esta estrela em ascensão. Josephine, como depois ficou conhecida, detestava Napoleão, mas não tendo outra escolha fazia-lhe rasgados elogios e o casamento não tardou.
Toda a Paris conhecia a sua reputação, com o marido fora por longos períodos, frequentava os bailes e os jantares que podia e mantinha um sem número de amantes. Só uma pessoa desconhecia esta situação e Bourienne escreveu precisamente que no Egipto, deparou-se com dois homens a conversar, um deles estava cada vez mais pálido e a na sua face eram visíveis as convulsões e um olhar terrível.
Os oficiais superiores presentes nesta campanha sabiam do comportamento de Josephine, mas só Junot teve a irreflectida corajem para lhe contar. Napoleão terá depois aparecido bastante transtornado ao seu secretário, gritando-lhe que não lhe era dedicado, pois de certeza que também tudo isto seria do seu conhecimento e nada lhe dissera.
Muitos autores afirmam que neste seu primeiro casamento Napoleão passou por duas fases, a primeira de total enamoramento por sua mulher, a segunda e já regressado permaturamente do Egipto, de ódio e depois de simples amizade. Curiosamente Josephine depois deste episódio torna-se numa esposa fidelíssima.
Resumindo, para alguns autores, Napoleão nunca terá perdoado a Junot o facto de lhe ter contado sobre as traições de sua esposa.


22.5.07

Porque Junot nunca foi Marechal.

Este podia ser o título de um romance, onde se especularia sobre as razões de tal facto. Não existe nenhum documento, seja uma carta, ou um diário, escrito por Napoleão a afirmar taxativamente o porquê das suas promoções terem parado no posto de general, ao contrário dos outros companheiros de eleição do corso que a partir de 1804 são promovidos a marechais.
Jean Andoche Junot até foi um dos seus primeiros homens de confiança, tendo-o conhecido no cerco de Toulon e a ascensão dos dois ficaria intimamente ligadas, quanto mais brilhava a estrela de um, mais o outro subia na hierarquia.
Podem-se apontar três razões fundamentais para que tal nunca tivesse acontecido, uma vem do tempo da campanha do Egipto, a segunda seria de ordem funcional e a terceira e última de ordem emocional.......

95th Rifle Corps.

A guerra da independência dos Estados Unidos, forneceu, apesar da derrota, valiosas lições aos exércitos de sua majestade britânica, que não tardaram em copiar muitas das tácticas empregues no conflito. A utilização das encostas como forma de protecção das linhas contra fogo, foi uma dessas lições, mas havia que dispor no cume algumas unidades, de forma a atrair o inimigo.
Os americanos empregavam as suas milícias nessa tarefa, mas não só, por serem unidades muito móveis e constituídas por excelentes atiradores, podendo dispersar e reagrupar com facilidade, atacavem igualmente as colunas de abastecimento e a retaguarda ou os flancos, em suma, eram um pesadelo para qualquer comandante.
De volta a Inglaterra o estado maior, com o icentivo de alguns oficiais superiores, decretou a formação de um corpo experimental, que utilizaria os mesmos métodos das milícias americanas e que teria igualmente um melhor armamento, em relação aos regimentos de linha, nomeadamente novas espingardas que possibilitassem o tiro de precisão.
O coronel Coote Manningham foi encarregue da tarefa do recrutamento de homens, que na sua maioria provinham de outros regimentos, mas que eram recrutas ainda sem grande experiência e por isso mais permeáveis ao intenso treino a que foram sujeitos. O seu baptismo de fogo ocorreu, curiosamente, no falhado assalto anfíbio de Ferrol, Espanha.
Apesar de diversos fracassos nas expedições britânicas até 1807, a acção destes homens, desde a Dinamarca à América do Sul, foi decisiva para a assumpção da designação definitiva, 95th e para o recrutamento de mais um batalhão, isto em 1803.
Em 1808 o 95th tinha as suas forças divididas, o primeiro batalhão acompanhara Sir John Moore na expedição à Suécia e o segundo forma o cerne do que irá ser conhecido como a divisão ligeira de Wellesley. Cerca de 400 homens desembarcam em Portugal e são logo encarregues de abrir o caminho que o restante exército percorreria.
Neste contexto, são os atiradores do 95th, que disparam os primeiros tiros durante a refrega de Brilos, contra a vanguarda das tropas francesas do general Delaborde. O tenente Bunbury, membro do regimento, é o primeiro oficial inglês a ser morto nesta campanha. Mas não ficou por aqui a sua participação, tendo ainda tido um papel de destaque, quer na batalha da Roliça, quer na batalha do Vimeiro.
A sua forma de estar numa batalha era muito simples, não formavam a habitual linha de fogo, actuando sim dispersos num raio de 100 a 200 metros e, quando isso era possível, protegidos por rochas ou vegetação, sendo por isso muito difícil desalojá-los das suas posições. Tinham ainda a vantagem de já possuirem a espingarda Baker, talvez a arma mais precisa do seu tempo.
A protecção que dispensavam às linhas de infantaria, permitia que as mesmas só aparecessem no momento certo, para com o seu efeito devastador, acabar com o avanço inimigo. As ordens eram transmitidas por toques de clarim, ao contrário dos tambores nos outros regimentos e também os seus uniformes eram diferentes, ao invés da tradicional casaca vermelha, vestiam uma casaca verde escuro e calças também da mesma cor, o que lhes valeu a alcunha de "Grilos"

18.5.07

Curiosidades.

O Açúcar chegava a França proveniente das suas colónias nas Caraíbas e na América do Sul, mas um prolongado bloqueio marítimo declarado pelos ingleses e a incapacidade para o contrariar depois da derrota de Trafalgar, ditou a sua escassez nos mercados desta nação.
Este era um ingrediente importante para a conservação dos alimentos e Napoleão necessitava de uma solução, afinal possuía um numeroso exército. Alguns progressos já tinham sido concretizados, nomeadamente embalando comida, primeiro em jarros de vidro e depois em latas, mas uma fonte alternativa deste produto continuava a ser necessária.
Colaboradores fizeram então chegar às suas mãos os trabalhos que Marggraf e um seu discípulo realizaram 50 anos antes em Berlim e que permitia a extracção de açúcar de beterrabas, no entanto não se conseguiam grandes quantidades de uma maneira rápida e eficiente.
Como a situação assim o exigia e a necessidade é a mãe de todas as coisas, em 1811 Napoleão ordena o cultivo de 80.000 acres de beterraba e incentiva a criação de escolas e fábricas, numa tentativa de melhorar o processo.
Em 1812 a Legião de Honra é atribuída a Benjamin Delessert pelos avanços técnicos que conseguiu e que permitiram finalmente que a produção de açucar fosse viável, fazendo com que em 1814 já 40 fábricas estivessem em operação em França e também na Bélgica, Alemanha e Áustria.
Industria que com a derrota de Napoleão entrou em declínio, pois o açúcar de cana inundou novamente os mercados europeus e só em finais do século XIX é que se vai dar um tímido ressurgimento.

17.5.07

A Bíblia de Belém.

A campanha do Rossilhão.

É necessário retroceder até aos ultimos anos do século XVIII para se compreender todas as ramificações do que viria a ser conhecido posteriormente como As Invasões Francesas, ou num contexto ibérico A Guerra Peninsular, ou ainda num contexto europeu As Guerras Napoleónicas.
Em 1789 a Revolução Francesa desencadeia uma guerra entre as famílias coroadas da Europa, quase todas aparentadas com os Bourbon, que reinaram até então em França e as novas autoridades - a Convenção, de cariz republicano. Atacada em todas as suas fronteiras a jovem revolução está em perigo de sucumbir, mas pela primeira vez na história mundial, um exército de conscrição nacional vai impor a sua superioridade sobre exércitos compostos na sua maioria por mercenários, ou conscritos mal pagos.
Por altura da Primeira Coligação contra França, as autoridades de Espanha e Inglaterra negociaram uma convenção de auxílio mútuo, que não abrangia Portugal, mas D. João acaba por firmar acordos separados com ambos os países, sendo nessas condições que o governo espanhol solicita o envio de um contigente de auxílio, ao abrigo do tratado de 15 de Julho de 1793.
Cerca de 3 meses depois 5.400 homens, pouco mais do que uma divisão reforçada, chega à Catalunha sob o comando de John Forbes Skellater. O exército atravessava um período de nítida decadência quer ao nível do comando, quer ao nível do recrutamento, também os seus uniformes e armas eram antiquados, mas apesar de tudo entraram logo em acção.
O general Ricardos, comandante das forças luso-espanholas, optara por uma rápida invasão através dos Pirinéus Orientais conquistando toda a margem esquerda do rio Tech, já em pleno Rossilhão francês. Dispunha de 20.000 homens, número reduzido para levar a cabo uma campanha destas, pelo que o reforço português, se bem que escasso, foi bem recebido e deu-lhe ânimo para prosseguir em direcção a Perpignan, que no entanto não pôde ser tomada.
A partir daí estava perdida a iniciativa e no ano seguinte a resposta não se faria esperar, até porque em Dezembro a cidade de Toulon, que estava ocupada por uma força anglo espanhola, caíra novamente em mãos francesas. No Norte também a invasão de França fôra travada.
O ano de 1794 não começava sob os melhores auspícios, o que se confirmou logo com a notícia da morte do general Ricardos, que doente se retirara para Madrid. As derrotas sucedem-se, terminando a 17 de Novembro na batalha da Montanha Negra, onde o regimento do Porto é capturado e onde a fortaleza de Figueras se rende, abrindo caminho para uma invasão da Catalunha. Também o País Basco e a Navarra estão sob ameaça.
1795 é o ano decisivo, a Prússia retira-se da coligação, assinando um tratado em Basileia, a Holanda segue-lhe os passos e a Inglaterra perante estes factos, retirara as suas forças não só do Sul de França, mas também do Norte. Em Espanha a fortaleza de Rosas rende-se, mas os franceses no momento são incapazes de explorar este sucesso, mantendo-se atrás do rio Fluvia.
O general Urrutia, novo comandante das forças luso espanholas, consegue suster a invasão, com alguns contra ataques bem sucedidos, nomeadamente a reconquista de Puigcerdá, na fronteira, a 26 de Julho. O que este general não sabia é que Manuel Godoy preparava a paz e que 4 dias antes, no dia 22, a mesma tinha sido acordada em Basileia.
Portugal vê-se subitamente isolado no seio da desfeita primeira coligação, não é assinado qualquer tratado de paz, pelo que, para todos os efeitos continuava a guerra com França, de Inglaterra pouco ou nenhum auxílio se poderia esperar, apenas uns poucos regimentos formados por nobres franceses vêm para Portugal em 1801, mas pior do que isso era a Espanha passar de aliada a inimiga.

16.5.07

A quarta invasão francesa.

Estando este blog consagrado na sua essência à Primeira Invasão e a um período compreendido entre 1789 e 1808, não pode, no entanto, deixar de abordar outros temas, especialmente quando são tão maltratados pela historiografia portuguesa.
No ano de 1811, a derrota nas Linhas de Torres e a consequente retirada das forças do marechal Massena, não fazem terminar os combates, os franceses não tinham sido destroçados e ainda constituíam uma importante força de combate. Mas Wellesley consegue uma série de vitórias importantes e, agregando a isso as dissenções que há muito existiam entre o corpo de oficiais franceses, nomeadamente com as intrigas de Junot e de Ney, que chega mesmo a retirar com o seu corpo ignorando as ordens de Massena, temos o cenário para a batalha do Sabugal, após a qual os franceses retiram de Portugal, pondo termo à 3ª invasão.
O avanço inglês não pôde ser imediato, algumas fortalezas em território nacional, como Campo Maior e Almeida, ainda estavam em mãos francesas e especialmente do outro lado da fronteira Ciudad Rodrigo e Badajoz eram barreiras que não se podiam contornar por constituirem importantes bases de apoio para os mesmos. A atenção de Wellesley voltou-se então para a sua conquista, impedindo futuras invasões.
Apesar da superioridade em números, 350.000 homens no Armée d'Espagne, os franceses nunca conseguem essa vantagem no campo de batalha, pois acossados pela guerrilha espanhola, têm que deslocar importantes efectivos para a protecção das suas linhas de abastecimento. Napoleão, numa tentativa de estabilizar o Armée du Portugal, resolve enviar o Marechal Marmont, duque de Ragusa, para substituir Massena, à frente destes cerca de 50.000 homens.
Marmont tem carta branca para reorganizar este corpo, formando agora 6 divisões e mesmo para enviar de volta a França os oficiais, incluíndo generais, que julgue indesejáveis. Estratega hábil, aproveita todos os recursos ao seu dispôr para habilmente manobrar e impedir, por exemplo, que Ciudad Rodrigo caia em mãos inglesas, já no Outono de 1811. As ordens de Napoleão eram muito claras, face às ilações retiradas de combates anteriores, os marechais deviam ter por regra primordial a cooperação entre as suas divisões e não darem azo a ataques isolados e sem resultados.
Foi assim que Marmont dirigindo-se para a Andalúsia, fez a junção com as forças de Murat e levou Wellesley a retirar para Elvas aguardando nova oportunidade para conquistar Badajoz. Mas este foi episódio único de colaboração tendo em vista o mesmo objectivo e nenhum dos dois, apesar da superioridade numérica, tentou sequer explorar o sucesso inicial, apenas fizeram reconhecimentos em força e perante os resultados retiraram para norte e para leste.
Neste entretanto preparava-se a invasão da Rússia e muitos regimentos regressam a França para fazer parte do Grande Armée, o que quer dizer que os generais franceses tinham cada vez mais território que deviam defender, mas menos homens para o fazer e também tinham dificuldades com os abastecimentos, dada a guerrilha feroz movida pelos espanhóis.
Só Marmont para além de ter a seu cargo Portugal, ficara igualmente com responsabilidades sobre o 6º e o 7º gouvernement, ou seja, as Astúrias, parte da Estremadura, a velha Castela e Leão. Em Novembro de 1811 tem ainda que deslocar efectivos para a Catalunha, assim só poderia ter no campo de batalha cerca de 26.000 homens.
A 8 de Janeiro os anglo lusos cercam Ciudad Rodrigo, Marmont queria atacar de imediato com as suas 6 divisões, mas Dorsenne é contra tal operação e manda retirar 2 dessas divisões que faziam parte do exército do Norte, compelindo o marechal a retirar para a linha do Tejo, mantendo as comunicações com Madrid, mas desguarnecendo a fronteira.
Napoleão envia-lhe novas ordens em Fevereiro, as Astúrias seriam evacuadas, o quartel general deveria ser fixado em Salamanca e em Abril ou Maio, o mais tardar, desencadear uma nova ofensiva contra Portugal, através da Beira Baixa. Mais uma vez descurando-se o facto de serem meses com muita chuva, tornando difíceis as marchas.
No dia 3 de Abril de 1812 inicia-se então a operação que ficou esquecida - a 4ª e última invasão - tendo por pano de fundo o mesmo cenário inicial da 1ª. Marmont reúne os 26.000 homens nas margens do Águeda, deixando alguns regimentos a bloquear Ciudad Rodrigo e Almeida, dirigindo-se depois a Fuenteguinaldo, entra em Portugal por Alfaiates, Sabugal e Fundão.
Daí envia destacamentos, nomeadamente para Castelo Branco que é saqueada a 12 de Abril, no dia seguinte é a vez do Pedrogão e de Medelim. A 14 a cavalaria francesa desbarata com alguma facilidade milícias portuguesas enviadas contra ele desde a Guarda.
Marmont é cauteloso nesta sua investida e ao saber que no dia 7 Badajoz havia sido conquistada, apesar do alto preço em vidas pago pelos aliados, e que Wellesley investia agora para Norte, tem que tomar uma decisão rápida. A junção com Murat é agora impossível, os abastecimentos são cada vez mais dificeís e as fortalezas que cercara não caíram em suas mãos.
Não sendo o cenário favorável, 20 dias depois de iniciada, a 24 de Abril de 1812 começa a retirada. A 18 de Maio o general Hill destrói aquilo que restava da ponte de Almaraz, significando que os exércitos do Norte e do Sul já não comunicavam nem podiam efectuar operações conjuntas.
A 13 de Junho de 1812 um exército anglo luso, composto por cerca de 27.000 ingleses e 18.000 portugueses, atravessa o rio Águeda, dando início à campanha de Salamanca, no dia 28 são conquistados os fortes que defendiam a cidade, mas no dia 18 de Julho os franceses saem vitoriosos dos combates na zona de Tordesilhas.
A derrota francesa só acontece no dia 22 de Julho e só após um erro de cálculo de Marmont que acaba por expor demasiado o seu flanco esquerdo, no dia seguinte, a cavalaria britânica destroça a retaguarda do exército francês e a 8 de Agosto Madrid é reconquistada.
Não mais os franceses voltam a invadir Portugal, prosseguindo agora a campanha no sentido da fronteira franco espanhola.

15.5.07

A Ópera em Portugal de 1790 a 1808.

A dependência da corte, manifestada desde logo por ser o próprio monarca a pagar as bolsas de estudo, levava a que os autores tivessem que sujeitar-se às encomendas que recebiam. A música sacra tomava assim a primazia no seu repertório com solenes Te Deum, missas, salmos, oratórias e motetes.
Não existia a possibilidade de se dedicarem a um único género, mas como na corte havia uma longa tradição de celebrar datas festivas com música, mesmo as religiosas, sempre se podia dar às mesmas um carácter quase teatral, contra o qual diversas vozes se insurgiram e nomeadamente as dos confessores dos monarcas.
Para além dos nomes já referidos no artigo anterior, outros fizeram história no panorama operático nacional, mas é necessário recuar até inicíos do século XVIII para melhor se poder compreender a ascendência determinante que a música italiana vai ter em Portugal, relembre-se que a ópera é uma criação de nacionais deste país.
Sendo esse o modelo a seguir e tendo o monarca fundos disponíveis para o fazer, António de Almeida e António Teixeira foram os primeiros a irem estudar nas escolas italianas, tendo no seu regresso produzido uma não muito vasta, mas sim muito interessante obra religiosa e dramática.
Em sentido inverso vieram compositores, como Domenico Scarlatti, que vive em Lisboa de 1721 a 1729, aqui compondo algumas das suas mais conhecidas obras e aqui mantendo uma polémica com Carlos Seixas (1704 -1742) que foi reconhecidamente um dos grandes compositores para orgão e cravo do seu tempo, especulando-se da influência que terá exercido sobre o próprio Scarlatti, não se distinguindo bem quem foi o mestre e quem foi o aprendiz. Certo é que a música de Seixas, em muito ultrapassava os canônes do barroco, introduzindo já um novo estilo mais "moderno".
Giovanni Giorgio e David Perez, também italianos, eram o espelho de uma corte que graças ao ouro do Brasil era das mais esplendorosas da Europa, podendo contratar quem queria. Ambos ensinaram toda uma nova geração de músicos no Seminário Patriarcal, fundado em 1713. Foi igualmente um período em que 5 teatros em simultâneo encenavam óperas, muitas das quais já traduzidas para o português, numa delas, situada no Bairro Alto estreou-se Luísa de Aguiar Todi, grande cantora lírica portuguesa.
João Sousa Carvalho (1745-1800), professor de Marcos Portugal, estudou igualmente em Itália e foi compositor oficial da coroa. Deixou-nos de 5 óperas, a mais famosa das quais é L'amore industrioso, perdida durante anos nos arquivos da Ajuda. Mas um outro nome é intrigante, pelo pouco que se sabe dele - João Pedro de Almeida Motta, cuja obra só recentemente foi descoberta e, que os conhecedores não hesitam em colocá-la entre as melhores da segunda metade do século XVIII.
Outro dos alunos de Carvalho, foi João Domingos Bontempo (1775-1842), filho de um músico italiano, começa por afirmar-se em Paris, onde reside de 1801 a 1810, passando depois por Londres onde permanece até 1814. A sua biografia ficará para outro altura, o que interessa aqui é a sua vasta obra enquanto compositor e o seu papel enquanto pedagogo, deixando a sua influência em muitas gerações de músicos portugueses, quer através da fundação da Academia Filarmónica de Concertos, extinta por D. Miguel devido ao seu ideário liberal, quer também pelo seu papel enquanto director do Conservatório Nacional, criado em 1835.
Mais uma deixo a pergunta que cultura é esta, se é que assim se pode chamar, que ignora os nossos compositores e vive da importação de obras do estrangeiro. Mas afinal para que serve uma companhia nacional?

13.5.07

A embaixada de Lannes.

O general Jean Lannes era um oficial de grande prestígio no seio do exército francês, fizera todas as campanhas até 1800, nomeadamente as de Itália e a do Egipto, ao lado de Napoleão, surgindo aí uma forte amizade e confiança mútua, manifestada neste mesmo ano com a sua nomeação para comandante da Guarda Consular, percusora da Guarda Imperial.
A sua demasiada proximidade para com Napoleão era alvo de muitas invejas, o próprio não gostava de certas "liberdades" que Lannes tinha para com ele e quando rebentou o escândalo das elevadas somas de dinheiro gastas em fardamentos e em faustosas recepções, somando-se a isso rumores de desvio de fundos, ofereceu-se o pretexto ideal para o afastar de Paris.
Lannes vê nessa nomeação a sua queda em desgraça e muito contrafeito aceita ser ministro plenipotenciário e enviado extraordinário para a corte portuguesa. Chega em Março de 1802, instalando-se primeiro em Buenos Aires, nas casas do desembargador Santa Marta, mudando-se depois para a hospedaria inglesa, sita no palácio D. José Lobo da Silveira.
Contrariado e sem preparação para esta função, a sua acção pauta-se pela arrogância, mantendo constantes conflitos com o governo da época, que segundo ele já estaria minado pelas influências inglesas. O seu único gesto de delicadeza para com o príncipe regente, consistiu na oferta, a 12 de Abril, de um manto de veludo verde, mais um selim bordado a ouro e com coldres que continham duas belíssimas pistolas, muito ornamentadas, fabricadas em Versailles e ainda luxuosos arreios para o cavalo. À princesa ofereceu uma espingarda ricamente trabalhada.
D. João retribuíu com um retrato seu em moldura de diamantes, uma espingarda e duas pistolas, as balas eram feitas de ouro e nos polvorinhos em vez de pólvora, havia ouro em pó. Nada disto refreou a sua arrogância, quando se dirigia a Queluz, perguntava sempre se Mr. du Brésil estava.
A 10 de Agosto de 1802 pede passaportes e inopinadamente parte para Paris, mas a 11 de Março de 1803 regressava, pois Napoleão ainda não lhe perdoara. Desta vez fica hospedado no palácio do Largo do Loreto, esta sua nova vinda revela outro traço do seu carácter, em vez da altivez, a persuação e a boa disposição.
Consegue assim a amizade do príncipe, com quem se encontrava regularmente, mantendo mesmo conferências pela noite dentro, numa delas a 18 de Novembro, é estabelecida a neutralidade de Portugal. Acompanhava algumas caçadas reais e em pelo menos uma ocasião foi presenteado com uma lebre.
Para não ficar atrás ofereceu para os aposentos do palácio de Mafra, onde então estava a corte, uma colcha de cama de rendas magníficas. Tornou-se uma personna gratissima para D. João, que não hesitou em apadrinhar um seu filho, que em homenagem recebeu o nome do padrinho, o baptizado ocorreu na capela real da Bemposta a 29 de Setembro de 1803.
Mais uma vez, o príncipe ofertou a Lannes em honra da ocasião, uma prenda avaliada em quatro mil libras esterlinas e três punhados de diamantes, a madrinha deu à mãe do rebento o seu retrato emoldurado em diamantes e encimado por uma coroa. Nessa noite uma grande festa celebrou tão feliz ocasião, salientando-se o contributo de Marcos Portugal, que durante toda a estadia do francês compôs para ele diversas obras.
Estava Lannes neste idílio português, quando já em 1804 recebe a notícia da sua promoção a marechal por ocasião da proclamação de Napoleão como imperador dos franceses. Sentindo-se afastado desta efervescência na capital francesa, aproveita a partida de D. Lourenço de Lima, nomeado embaixador em Paris a bordo da fragata Carlota, para com ele enviar a sua esposa.
Na madrugada do dia 31 de Julho, também Lannes deixa Lisboa e o seu cargo, não mais aceitando voltar apesar das insistências de Tayllerand, ministro dos negócios estrangeiros.

10.5.07

Conferência.

Museu do ciclismo das Caldas da Rainha, amanhã dia 11 pelas 9:00 horas da noite, vai haver mais uma conferência sobre as invasões francesas.
A própria exposição é interessante, quer pelo armamento e uniformes, quer pelos objectos de uso quotidiano da época. Duas chamadas de atenção, a primeira para as páginas do mítico Falcão, banda desenhada publicada no Cavaleiro Andante, outra para os trabalhos dos alunos da escola Secundária de Odivelas.
Também está patente muita da literatura sobre o tema, sejam obras de cariz histórico, sejam romances e afins inspirados no tema. Não deixem pois de visitar e desfrutem da palestra.

Manuel Godoy


Manuel Godoy (1767-1851).

Depois de já ter mencionado por diversas vezes esta personagem, impunha-se agora fazer a biografia de Manuel de Godoy y Álvarez de Faría Rios Zarosa, nascido em Badajoz no seio de uma família da pequena nobreza e de mãe portuguesa.
Sendo o seu pai coronel do exército, a sua educação foi desde cedo orientada para o serviço militar, mas também adquire alguns conhecimentos de matemática, humanidades e filosofia. Em 1784 é admitido na corte por Carlos III, juntando-se ao irmão mais velho, que era membro da Guarda de Corpo. Estuda aí francês com os irmãos Joubert, que sobre ele exercem grande influência.
A 8 de Novembro de 1792, oito anos depois da sua chegada, Godoy é nomeado Primeiro Secretário de Estado ou do Despacho e Primeiro Ministro por Carlos IV que desde 1788, altura em que sucedera a seu pai, lhe tinha concedido inúmeras honrarias, promovendo-o de cadete a ajudante general, brigadeiro, marechal de campo e sargento mor da Guarda de Corpo.
A linha política que seguiu foi sempre a de apoiar o campo que parecia ter a vantagem, assim tanto apoiou a Inglaterra, como de seguida apoiou a França. Ao firmar a paz de Basileia, em 1796, recebe o título de Príncipe da Paz e após a Guerra das Laranjas de 1801, é nomeado generalíssimo, título outorgado pela primeira vez em Espanha.
Não caberiam aqui todos os que recebeu até cair em desgraça, mas impõe-se a pergunta, a que se deveu tão rápida ascensão? Uma parte dos historiadores espanhóis, ligou-a à rainha Maria Luísa, de quem seria supostamente amante, mas outra parte, sem descurar esta possibilidade, atribuiu à Revolução Francesa e às hesitações dos ministros Floridablanca e Aranda, que não souberam impôr uma política de fortalecimento da monarquia face aos novos ideiais revolucionários. Segundo esta perspectiva, Godoy seria um homem livre de influências e leal ao seu rei.
Voltando aos factos, a aliança com França, tal como ficara consagrado no primeiro tratado de San Ildefonso, serviria para salvarguardar os territórios ultramarinos, os interesses da Duquesa de Parma, filha de Maria Luísa e, para acalmar os intentos dos republicanos.
No entanto as intrigas, muitas vezes instigadas pelos próprios franceses que secretamente negociavam a paz com Inglaterra e algumas derrotas levaram à sua saída do governo em 1798. Nem as reformas que apoiou, nem o facto do seu governo integrar personagens ilustres, "grandes" de Espanha, o salvou.
Só em 1801 voltou a integrar um governo, embora deixando o cargo de primeiro secretário para um seu primo, tinha sido negociado um ano antes o terceiro tratado de San Ildefonso com França, ficando consagrado desta vez que a Louisiana ficaria para este país, em troca a Duquesa de Parma receberia o reino da Etrúria e as hostilidades seriam abertas com Portugal.
No rescaldo da Guerra das Laranjas, Godoy conseguiu para Espanha a praça de Olivença e em 1802, com a paz de Amiens, firmada entre Napoleão e o monarca inglês, perdeu a ilha de Trinidad, mas recuperou a ilha de Menorca. Napoleão não deixava de interferir na política interna e em 1805 consegue uma nova aliança, que leva ao desastre de Trafalgar, perdendo Espanha a maioria das sua embarcações de guerra.
Em 1806 Napoleão oferece o reino de Nápoles a José Bonaparte, seu irmão, expulsando do trono Fernando IV, irmão do monarca espanhol, algo que não conseguiria sem desfazer a aliança, não fôra a intervenção de Godoy, que odiava essa personagem e a quem já teria sido prometido uma parte de Portugal caso o país fosse invadido.
Os desmedidos pedidos do imperador dos franceses, em homens, dinheiro e territórios, levaram-no a considerar pouco depois a adesão à quarta coligação, mas a derrota da mesma, levou-o a reconsiderar. No ano seguinte adere ao Bloqueio Continental e a 27 de Outubro por intermédio de D. Eugénio Izquierdo, um seu agente, acorda com Napoleão os termos do Tratado de Fontainebleau.
Quando descobriu as intenções de dominío de toda a península já era tarde demais e mesmo antes da ractificação final do documento, já tropas francesas, com o seu beneplácito, tinham atravessado os Pirinéus. Depois veio a exigência da abertura de um caminho militar, com as principais fortalezas guarnecidas por tropas francesas e a linha de fronteira foi transferida para o rio Ebro.
Começaram a surgir das sombras as vozes de descontentamento em relação à sua política, agrupando-se em volta do herdeiro, D. Fernando, a 19 de Março de 1808 e na sequência dos projectos da familia real que pretendia seguir os passos da sua congénere portuguesa e fugir para as Américas, inicia-se o motim de Aranjuez, em que o palácio do favorito é queimado.
Só a rápida intervenção de um exército francês comandado por Murat o salva, escoltando-o até Bayonne, onde pela primeira vez encontra Napoleão em pessoa e onde assiste à abdicação de Carlos IV e à cedência de D. Fernando dos seus direitos ao trono em favor da família Bonaparte.
Em 1814, finda a guerra, Carlos IV abdicou novamente do trono, desta vez em favor de seu filho que toma o título de Fernando VII e entrega a seu pai 8 milhões de reais para que ele viva em Roma sem mais o incomodar, consegue ainda o exílio de Godoy em Pesaro na Itália.
Godoy acompanhou os seus monarcas até à morte dos mesmos, em 1819, mas foi sempre perseguido por D. Fernando que finalmente acabou por conseguir a renúncia aos títulos que lhe tinham sido outorgados, entre os quais o de Príncipe da Paz. A partir de 1832 instala-se em Paris, vivendo a expensas de uma modesta pensão concedida por Luís Felipe.
Na onda de revivalismo do primeiro império, aproveita para escrever as suas memórias, publicadas em castelhano e em francês. Em 1844 e 1847, dois decretos de Isabel II consagram a devolução de todos os seus títulos, com excepção para os de Príncipe da Paz, Generalísimo e Gran Almirante. Não usufrui deles pois ficam retidos até depois da sua morte.
Aos 80 anos de vida é permitido o seu regresso a Espanha, mas rapidamente decide voltar para Paris onde assiste ainda à revolução de 1848 e à ascensão de Napoleão III. A 4 de Outubro de 1851 morre sem que ninguém quer em Espanha, quer em França faça disso grande notícia e é sepultado em campa modesta no cemitério de Père Lachaise.

8.5.07

Curiosidades.

Existe no Porto um género de pão e que chamam "moletes", atribuíndo-se a origem desta designação a um oficial francês. Não tenho todos os factos, mas sei que alguns dos mencionados estão incorrectos, por exemplo, Junot não esteve no Porto.
Certo é que o general Quesnel esteve e tinha consigo alguns oficiais de patente superior, se entre os mesmos estaria um chamado Molet, é algo que irei descobrir, mas continuando com a lenda, conta-se que este oficial tinha trazido consigo um padeiro, que fazia um pão de que todos gostavam.
Deturpações mais tarde, teríamos aí a origem dos "moletes".

José Travassos Valdez (1787-1862).

A primeira invasão francesa, bem como as subsequentes, permitiram uma rápida ascensão social, que antes estaria vedada aos que não nasciam no seio da nobreza. Um dos paradigmas disso mesmo é o primeiro conde do Bonfim e par do reino, tal como foi outorgado por D. Maria II.
Sendo natural de Elvas, em 1807 estudava direito na Universidade de Coimbra e seria essa a sua carreira futura, interrompida pelas incidências do ano seguinte que o levam a alistar-se no batalhão académico. Bernardim Freire, general encarregue da reorganização do exército português, envia-o para o quartel de Wellesley, onde seria o elemento que faria a ligação com as forças nacionais.
Nessa condição é um espectador privilegiado das batalhas da Roliça e do Vimeiro, no que seria só o início da sua brilhante carreira e que levou, embora não fosse militar de carreira, a ser promovido a Major no final da campanha peninsular em 1814.
Também tem uma participação activa na guerra civil e mesmo nas revoluções posteriores, o que lhe vale alguns períodos de encarceramento e mesmo o exílio. Tudo perdoado, nos últimos anos de vida, já promovido a brigadeiro, faz parte do conselho de justiça militar até à sua morte.

7.5.07

Goya - La carga de los Mamelucos.


Dos de Mayo.

Na sequência do motim de Aranjuez, no dia 23 de Março de 1808, o general francês Murat ocupa Madrid. No dia seguinte Fernando VII, aclamado pelo povo depois da abdicação do seu pai, Carlos IV, faz uma entrada triunfal na cidade, mas a situação não ficaria por aí.
Murat exige que ambos partam para Bayonne onde resolveriam as suas disputas sob os auspícios de Napoleão, que serviria como árbitro, Godoy segue-os nessa viagem. É nomeada uma Junta de Gobierno, embora o poder resida efectivamente nas mãos do general francês, relegando a dita para um papel de mero espectador dos acontecimentos.
No dia 23 de Abril, a Junta recebe um pedido de Murat, feito supostamente em nome de Carlos IV, para que também a rainha da Etrúria e o infante Fernando de Paula, fossem enviados para França, pedido que é inicialmente recusado, só sendo finalmente aceite depois da recepção de uma carta de D. Fernando, onde se podia ler que era importante "manter a paz e a harmonia" com os franceses.
O encontro de Bayonne termina com a abdicação de D. Carlos e D. Fernando e diga-se de passagem, que tal acto não foi uma grande contrariedade para nenhum deles. A partir daí tudo se vai precipitar até ao dia 2 de Maio, quando uma multidão se reúne em redor do palácio real de Madrid.
Novamente são postos a circular boatos, desta vez verídicos, em como soldados franceses estavam a levar os restantes membros da família real e se a partida da rainha da Etrúria não causou qualquer comoção, já os preparativos para a do infante e o facto do mesmo ter sido visto numa varanda, leva ao começo da revolta.
Ao grito de ¡Que nos lo llevan!, o povo invade o palácio, o pretexto ideal para Murat enviar os seus granadeiros e alguma artilharia, que abre fogo sobre os revoltosos. A luta estende-se a toda a cidade, os madrilenos armam-se com o que conseguem e os diferentes barrios, liderados por caudilhos mais ou menos espontâneos, procuram organizar-se.
A primeira prioridade é a defesa das portas da cidade, numa tentativa de impedir a chegada do grosso da tropa francesa, acantonada fora da cidade, o pior é que Murat, mais experiente nestes assuntos, já tinha feito chegar a maioria dos cerca de 30.000 homens de que dispunha. Não contava era com uma resistência tão feroz, incapaz no entanto de ser mantida por muito tempo, mas imortaliza pelos quadros de Goya, como La Carga de los Mamelucos.
O dia custou caro aos franceses, mas ainda mais aos madrilenos, porque findas as lutas, iniciaram-se as represálias, Murat aproveita mesmo para impôr uma jurisdição militar e assim através de tribunais sumários liderados por Grouchy, executar centenas de rebeldes.
Refira-se que as unidades militares da capital não têm qualquer tipo de interferência nos acontecimentos, seguindo as ordens do capitão general Francisco Negrete, mantêm-se nos seus aquartelamentos. Excepção feita aos artilheiros que, comandados pelos capitães Luis Daoiz y Torres e Pedro Velarde Santillán, entrincheiram-se no parque de artilharia de Monteléon e chegam mesmo a repelir o primeiro ataque francês, sendo dizimados no segundo.
Murat, tendo como objectivo primordial o controlo de todas as instituições espanholas, depois da repressão e contando com o apoio das classes dirigentes, controla todo o governo, o que não evita que alguns dos sobreviventes, espalhem as notícias dos horrores de Madrid por toda a Espanha.

5.5.07

Aranjuez.

199 anos, Aranjuez não esqueçe a memória dos motins, que ditaram a queda do favorito Manuel Godoy. As festas estão desde 1992 declaradas como de Interesse Turístico Nacional, curiosamente ocorrem agora na primeira semana de Setembro, coincidindo com a feria local.
Local de residência de Verão dos monarcas Borbons, o Palácio Real é o cenário perfeito para as comemorações, sim leram bem, porque se trata de uma celebração do levantamento popular e os locais exprimem assim o seu orgulho, apesar de reconhecerem que a nobreza da altura manipulou os acontecimentos.
O programa é extenso e variado, salientando-se a encenação do motim na praça de armas do palácio, em que cerca de 200 pessoas dão vida a um guião de Galdós. Para o resto basta consultar um qualquer guia turístico de Espanha, que anuncia amplamente esta festa e que prepara desde o ano passado o bicentenário.
E em Portugal?

O Motim de Aranjuez.

A corte de Carlos IV era um ninho de intrigas, que atingiram o seu ponto alto a 17 de Março de 1808, quando as ruas desta povoação, situada ao Sul de Madrid, na confluência do rio Jarama com o rio Tejo, são invadidas por uma multidão em protesto contra Carlos IV, mas especialmente contra Godoy e a sua política pró francesa.
Um núcleo importante da nobreza espanhola, unida em torno do primogénito D. Fernando, temendo o poder absoluto de que gozava o favorito e a sua relação com Maria Luísa, soube aproveitar o descontentamento popular, que aliás fomentaram, para exigir mudanças profundas no governo.
O apoio da igreja foi o último passo de que necessitaram, bem como a suspeição, que reinava em todos os sectores da sociedade, contra os franceses que, apesar do acordado em Fontaibebleau, ocupavam fortalezas importantes (Burgos, Pamplona, Salamanca, San Sebastián, entre outras). A pouco e pouco os efectivos desta nacionalidade já ascendiam a 65.000 homens, controlando as comunicações com França e mesmo a capital Madrid.
Godoy já tinha as suas próprias suspeitas e fizera retirar a família real para Aranjuez em Março, integrado num projecto mais vasto de retirada para a América Latina, tal como o fizera o Príncipe Regente de Portugal. Precisamente no dia em causa, a nobreza espalha o rumor da viagem incitando a população a impedir a mesma.
O palácio real é cercado, mas pior sorte tem o palácio de Godoy que é queimado, no entanto o favorito escapa e no dia 19 consegue refugiar-se no quartel da Guarda de Corpo e é D. Fernando que evita o seu linchamento, mas ordena a sua prisão.
Sendo o "líder" desta revolta é nele que seu pai abdica da coroa, o novo monarca é agora legitimado pela vontade popular, vendo muitos historiadores do país vizinho neste acontecimento os estertores da monarquia absoluta.

4.5.07

Curiosidades.

Resposta:
Palco da fase final do período napoleónico, com algumas grandes batalhas a decorrerem em seu território, os agricultores da Bélgica, mas não só, começaram a notar que eram as papoilas as primeiras a florir sobre as campas dos soldados.
Mais tarde após a Primeira Grande Guerra, o fenómeno repetiu-se e aos poucos a papoila foi associada à lembrança desses milhares de soldados mortos ao longo dos tempos, sendo um símbolo utilizado nas homenagens que ocorrem um pouco por todo o mundo, o paradigma disso é o Anzac Day, na Austrália que desde 1978, faz uso de uma papoila estilizada nas comemorações.
Um médico canadiano ditou a sua divisa:
In Flanders fields the poppies grow
Between the crosses, row on row.

3.5.07

Curiosidades.

Qual é a ligação entre as papoilas, as guerras napoleónicas e a homenagem aos soldados caídos em batalha?

A Europa em 1807.

A batalha naval ao largo de Trafalgar, Espanha, em 1805, constitui um sério revés para os planos de Napoleão Bonaparte, que desde o ano anterior era o Imperador dos franceses. Uma invasão das ilhas britânicas fica posta de parte e o domínio dos mares pende definitivamente para o lado inglês.
Por oposição no continente tudo corre pelo melhor, ainda em 1805 Ulm e Austerlitz são vitórias retumbantes para os exércitos franceses, forçando austríacos e russos a negociarem a paz e ingleses e suecos a estacarem os seus planos para a guerra. Assim se acabou com a terceira coligação.
1806 é um ano de consolidação de posições, novamente Inglaterra que resistia só ao domínio francês, consegue a formação de uma quarta coligação, financiando os exércitos da Prússia, da Saxónia e da Rússia. O que estes países não tinham aprendido então era a forma de contrariar as tácticas de Napoleão. Um avanço rápido apanhou estes exércitos sem os efectivos completos e sem poderem fazer a junção, Jena e Austertadt são vitórias que abrem o caminho para Berlim.
A campanha é muito rápida, a 8 de Outubro inicia-se a invasão, a 14 são as vitórias e a 24 já Napoleão está no palácio dos Hohenloe em Berlim. Um mês depois o derradeiro exército prussiano rende-se em Lubek, forçando Frederico Guilherme III a refugiar-se na Rússia em busca de santuário.
Restava precisamnente este país, mas a aproximação do inverno parecia não permitir o continuar das hostilidades, no entanto, tentando um golpe de sorte, o comandante russo Benningsen aproximou as suas forças de Napoleão, provocando a batalha de Eylau, uma das mais sangrentas do período napoleónico. Em Friedland, nova vitória francesa dita o fim desta campanha, o Tsar russo devastado pela rapidez com que tinha sido derrotado, encontra-se com Napoleão no meio do rio Niemen dando origem ao famoso tratado de Tilsit.
Casa arrumada, ou seja, derrotada a Prússia, é formada a Confederação do Reno, união de estados pró francesa, é decretado o Bloqueio Continental e é estabelecida uma aliança com a Rússia. O que restava a Napoleão?
Bem, restava a questão ibérica e em 1807, o imperador dos franceses queria resolvê-la de vez, relembre-se que a mesma estava pendente desde 1793, data da Campanha do Rossilhão.