16.5.07

A quarta invasão francesa.

Estando este blog consagrado na sua essência à Primeira Invasão e a um período compreendido entre 1789 e 1808, não pode, no entanto, deixar de abordar outros temas, especialmente quando são tão maltratados pela historiografia portuguesa.
No ano de 1811, a derrota nas Linhas de Torres e a consequente retirada das forças do marechal Massena, não fazem terminar os combates, os franceses não tinham sido destroçados e ainda constituíam uma importante força de combate. Mas Wellesley consegue uma série de vitórias importantes e, agregando a isso as dissenções que há muito existiam entre o corpo de oficiais franceses, nomeadamente com as intrigas de Junot e de Ney, que chega mesmo a retirar com o seu corpo ignorando as ordens de Massena, temos o cenário para a batalha do Sabugal, após a qual os franceses retiram de Portugal, pondo termo à 3ª invasão.
O avanço inglês não pôde ser imediato, algumas fortalezas em território nacional, como Campo Maior e Almeida, ainda estavam em mãos francesas e especialmente do outro lado da fronteira Ciudad Rodrigo e Badajoz eram barreiras que não se podiam contornar por constituirem importantes bases de apoio para os mesmos. A atenção de Wellesley voltou-se então para a sua conquista, impedindo futuras invasões.
Apesar da superioridade em números, 350.000 homens no Armée d'Espagne, os franceses nunca conseguem essa vantagem no campo de batalha, pois acossados pela guerrilha espanhola, têm que deslocar importantes efectivos para a protecção das suas linhas de abastecimento. Napoleão, numa tentativa de estabilizar o Armée du Portugal, resolve enviar o Marechal Marmont, duque de Ragusa, para substituir Massena, à frente destes cerca de 50.000 homens.
Marmont tem carta branca para reorganizar este corpo, formando agora 6 divisões e mesmo para enviar de volta a França os oficiais, incluíndo generais, que julgue indesejáveis. Estratega hábil, aproveita todos os recursos ao seu dispôr para habilmente manobrar e impedir, por exemplo, que Ciudad Rodrigo caia em mãos inglesas, já no Outono de 1811. As ordens de Napoleão eram muito claras, face às ilações retiradas de combates anteriores, os marechais deviam ter por regra primordial a cooperação entre as suas divisões e não darem azo a ataques isolados e sem resultados.
Foi assim que Marmont dirigindo-se para a Andalúsia, fez a junção com as forças de Murat e levou Wellesley a retirar para Elvas aguardando nova oportunidade para conquistar Badajoz. Mas este foi episódio único de colaboração tendo em vista o mesmo objectivo e nenhum dos dois, apesar da superioridade numérica, tentou sequer explorar o sucesso inicial, apenas fizeram reconhecimentos em força e perante os resultados retiraram para norte e para leste.
Neste entretanto preparava-se a invasão da Rússia e muitos regimentos regressam a França para fazer parte do Grande Armée, o que quer dizer que os generais franceses tinham cada vez mais território que deviam defender, mas menos homens para o fazer e também tinham dificuldades com os abastecimentos, dada a guerrilha feroz movida pelos espanhóis.
Só Marmont para além de ter a seu cargo Portugal, ficara igualmente com responsabilidades sobre o 6º e o 7º gouvernement, ou seja, as Astúrias, parte da Estremadura, a velha Castela e Leão. Em Novembro de 1811 tem ainda que deslocar efectivos para a Catalunha, assim só poderia ter no campo de batalha cerca de 26.000 homens.
A 8 de Janeiro os anglo lusos cercam Ciudad Rodrigo, Marmont queria atacar de imediato com as suas 6 divisões, mas Dorsenne é contra tal operação e manda retirar 2 dessas divisões que faziam parte do exército do Norte, compelindo o marechal a retirar para a linha do Tejo, mantendo as comunicações com Madrid, mas desguarnecendo a fronteira.
Napoleão envia-lhe novas ordens em Fevereiro, as Astúrias seriam evacuadas, o quartel general deveria ser fixado em Salamanca e em Abril ou Maio, o mais tardar, desencadear uma nova ofensiva contra Portugal, através da Beira Baixa. Mais uma vez descurando-se o facto de serem meses com muita chuva, tornando difíceis as marchas.
No dia 3 de Abril de 1812 inicia-se então a operação que ficou esquecida - a 4ª e última invasão - tendo por pano de fundo o mesmo cenário inicial da 1ª. Marmont reúne os 26.000 homens nas margens do Águeda, deixando alguns regimentos a bloquear Ciudad Rodrigo e Almeida, dirigindo-se depois a Fuenteguinaldo, entra em Portugal por Alfaiates, Sabugal e Fundão.
Daí envia destacamentos, nomeadamente para Castelo Branco que é saqueada a 12 de Abril, no dia seguinte é a vez do Pedrogão e de Medelim. A 14 a cavalaria francesa desbarata com alguma facilidade milícias portuguesas enviadas contra ele desde a Guarda.
Marmont é cauteloso nesta sua investida e ao saber que no dia 7 Badajoz havia sido conquistada, apesar do alto preço em vidas pago pelos aliados, e que Wellesley investia agora para Norte, tem que tomar uma decisão rápida. A junção com Murat é agora impossível, os abastecimentos são cada vez mais dificeís e as fortalezas que cercara não caíram em suas mãos.
Não sendo o cenário favorável, 20 dias depois de iniciada, a 24 de Abril de 1812 começa a retirada. A 18 de Maio o general Hill destrói aquilo que restava da ponte de Almaraz, significando que os exércitos do Norte e do Sul já não comunicavam nem podiam efectuar operações conjuntas.
A 13 de Junho de 1812 um exército anglo luso, composto por cerca de 27.000 ingleses e 18.000 portugueses, atravessa o rio Águeda, dando início à campanha de Salamanca, no dia 28 são conquistados os fortes que defendiam a cidade, mas no dia 18 de Julho os franceses saem vitoriosos dos combates na zona de Tordesilhas.
A derrota francesa só acontece no dia 22 de Julho e só após um erro de cálculo de Marmont que acaba por expor demasiado o seu flanco esquerdo, no dia seguinte, a cavalaria britânica destroça a retaguarda do exército francês e a 8 de Agosto Madrid é reconquistada.
Não mais os franceses voltam a invadir Portugal, prosseguindo agora a campanha no sentido da fronteira franco espanhola.