17.5.07

A campanha do Rossilhão.

É necessário retroceder até aos ultimos anos do século XVIII para se compreender todas as ramificações do que viria a ser conhecido posteriormente como As Invasões Francesas, ou num contexto ibérico A Guerra Peninsular, ou ainda num contexto europeu As Guerras Napoleónicas.
Em 1789 a Revolução Francesa desencadeia uma guerra entre as famílias coroadas da Europa, quase todas aparentadas com os Bourbon, que reinaram até então em França e as novas autoridades - a Convenção, de cariz republicano. Atacada em todas as suas fronteiras a jovem revolução está em perigo de sucumbir, mas pela primeira vez na história mundial, um exército de conscrição nacional vai impor a sua superioridade sobre exércitos compostos na sua maioria por mercenários, ou conscritos mal pagos.
Por altura da Primeira Coligação contra França, as autoridades de Espanha e Inglaterra negociaram uma convenção de auxílio mútuo, que não abrangia Portugal, mas D. João acaba por firmar acordos separados com ambos os países, sendo nessas condições que o governo espanhol solicita o envio de um contigente de auxílio, ao abrigo do tratado de 15 de Julho de 1793.
Cerca de 3 meses depois 5.400 homens, pouco mais do que uma divisão reforçada, chega à Catalunha sob o comando de John Forbes Skellater. O exército atravessava um período de nítida decadência quer ao nível do comando, quer ao nível do recrutamento, também os seus uniformes e armas eram antiquados, mas apesar de tudo entraram logo em acção.
O general Ricardos, comandante das forças luso-espanholas, optara por uma rápida invasão através dos Pirinéus Orientais conquistando toda a margem esquerda do rio Tech, já em pleno Rossilhão francês. Dispunha de 20.000 homens, número reduzido para levar a cabo uma campanha destas, pelo que o reforço português, se bem que escasso, foi bem recebido e deu-lhe ânimo para prosseguir em direcção a Perpignan, que no entanto não pôde ser tomada.
A partir daí estava perdida a iniciativa e no ano seguinte a resposta não se faria esperar, até porque em Dezembro a cidade de Toulon, que estava ocupada por uma força anglo espanhola, caíra novamente em mãos francesas. No Norte também a invasão de França fôra travada.
O ano de 1794 não começava sob os melhores auspícios, o que se confirmou logo com a notícia da morte do general Ricardos, que doente se retirara para Madrid. As derrotas sucedem-se, terminando a 17 de Novembro na batalha da Montanha Negra, onde o regimento do Porto é capturado e onde a fortaleza de Figueras se rende, abrindo caminho para uma invasão da Catalunha. Também o País Basco e a Navarra estão sob ameaça.
1795 é o ano decisivo, a Prússia retira-se da coligação, assinando um tratado em Basileia, a Holanda segue-lhe os passos e a Inglaterra perante estes factos, retirara as suas forças não só do Sul de França, mas também do Norte. Em Espanha a fortaleza de Rosas rende-se, mas os franceses no momento são incapazes de explorar este sucesso, mantendo-se atrás do rio Fluvia.
O general Urrutia, novo comandante das forças luso espanholas, consegue suster a invasão, com alguns contra ataques bem sucedidos, nomeadamente a reconquista de Puigcerdá, na fronteira, a 26 de Julho. O que este general não sabia é que Manuel Godoy preparava a paz e que 4 dias antes, no dia 22, a mesma tinha sido acordada em Basileia.
Portugal vê-se subitamente isolado no seio da desfeita primeira coligação, não é assinado qualquer tratado de paz, pelo que, para todos os efeitos continuava a guerra com França, de Inglaterra pouco ou nenhum auxílio se poderia esperar, apenas uns poucos regimentos formados por nobres franceses vêm para Portugal em 1801, mas pior do que isso era a Espanha passar de aliada a inimiga.