15.5.07

A Ópera em Portugal de 1790 a 1808.

A dependência da corte, manifestada desde logo por ser o próprio monarca a pagar as bolsas de estudo, levava a que os autores tivessem que sujeitar-se às encomendas que recebiam. A música sacra tomava assim a primazia no seu repertório com solenes Te Deum, missas, salmos, oratórias e motetes.
Não existia a possibilidade de se dedicarem a um único género, mas como na corte havia uma longa tradição de celebrar datas festivas com música, mesmo as religiosas, sempre se podia dar às mesmas um carácter quase teatral, contra o qual diversas vozes se insurgiram e nomeadamente as dos confessores dos monarcas.
Para além dos nomes já referidos no artigo anterior, outros fizeram história no panorama operático nacional, mas é necessário recuar até inicíos do século XVIII para melhor se poder compreender a ascendência determinante que a música italiana vai ter em Portugal, relembre-se que a ópera é uma criação de nacionais deste país.
Sendo esse o modelo a seguir e tendo o monarca fundos disponíveis para o fazer, António de Almeida e António Teixeira foram os primeiros a irem estudar nas escolas italianas, tendo no seu regresso produzido uma não muito vasta, mas sim muito interessante obra religiosa e dramática.
Em sentido inverso vieram compositores, como Domenico Scarlatti, que vive em Lisboa de 1721 a 1729, aqui compondo algumas das suas mais conhecidas obras e aqui mantendo uma polémica com Carlos Seixas (1704 -1742) que foi reconhecidamente um dos grandes compositores para orgão e cravo do seu tempo, especulando-se da influência que terá exercido sobre o próprio Scarlatti, não se distinguindo bem quem foi o mestre e quem foi o aprendiz. Certo é que a música de Seixas, em muito ultrapassava os canônes do barroco, introduzindo já um novo estilo mais "moderno".
Giovanni Giorgio e David Perez, também italianos, eram o espelho de uma corte que graças ao ouro do Brasil era das mais esplendorosas da Europa, podendo contratar quem queria. Ambos ensinaram toda uma nova geração de músicos no Seminário Patriarcal, fundado em 1713. Foi igualmente um período em que 5 teatros em simultâneo encenavam óperas, muitas das quais já traduzidas para o português, numa delas, situada no Bairro Alto estreou-se Luísa de Aguiar Todi, grande cantora lírica portuguesa.
João Sousa Carvalho (1745-1800), professor de Marcos Portugal, estudou igualmente em Itália e foi compositor oficial da coroa. Deixou-nos de 5 óperas, a mais famosa das quais é L'amore industrioso, perdida durante anos nos arquivos da Ajuda. Mas um outro nome é intrigante, pelo pouco que se sabe dele - João Pedro de Almeida Motta, cuja obra só recentemente foi descoberta e, que os conhecedores não hesitam em colocá-la entre as melhores da segunda metade do século XVIII.
Outro dos alunos de Carvalho, foi João Domingos Bontempo (1775-1842), filho de um músico italiano, começa por afirmar-se em Paris, onde reside de 1801 a 1810, passando depois por Londres onde permanece até 1814. A sua biografia ficará para outro altura, o que interessa aqui é a sua vasta obra enquanto compositor e o seu papel enquanto pedagogo, deixando a sua influência em muitas gerações de músicos portugueses, quer através da fundação da Academia Filarmónica de Concertos, extinta por D. Miguel devido ao seu ideário liberal, quer também pelo seu papel enquanto director do Conservatório Nacional, criado em 1835.
Mais uma deixo a pergunta que cultura é esta, se é que assim se pode chamar, que ignora os nossos compositores e vive da importação de obras do estrangeiro. Mas afinal para que serve uma companhia nacional?