13.5.07

A embaixada de Lannes.

O general Jean Lannes era um oficial de grande prestígio no seio do exército francês, fizera todas as campanhas até 1800, nomeadamente as de Itália e a do Egipto, ao lado de Napoleão, surgindo aí uma forte amizade e confiança mútua, manifestada neste mesmo ano com a sua nomeação para comandante da Guarda Consular, percusora da Guarda Imperial.
A sua demasiada proximidade para com Napoleão era alvo de muitas invejas, o próprio não gostava de certas "liberdades" que Lannes tinha para com ele e quando rebentou o escândalo das elevadas somas de dinheiro gastas em fardamentos e em faustosas recepções, somando-se a isso rumores de desvio de fundos, ofereceu-se o pretexto ideal para o afastar de Paris.
Lannes vê nessa nomeação a sua queda em desgraça e muito contrafeito aceita ser ministro plenipotenciário e enviado extraordinário para a corte portuguesa. Chega em Março de 1802, instalando-se primeiro em Buenos Aires, nas casas do desembargador Santa Marta, mudando-se depois para a hospedaria inglesa, sita no palácio D. José Lobo da Silveira.
Contrariado e sem preparação para esta função, a sua acção pauta-se pela arrogância, mantendo constantes conflitos com o governo da época, que segundo ele já estaria minado pelas influências inglesas. O seu único gesto de delicadeza para com o príncipe regente, consistiu na oferta, a 12 de Abril, de um manto de veludo verde, mais um selim bordado a ouro e com coldres que continham duas belíssimas pistolas, muito ornamentadas, fabricadas em Versailles e ainda luxuosos arreios para o cavalo. À princesa ofereceu uma espingarda ricamente trabalhada.
D. João retribuíu com um retrato seu em moldura de diamantes, uma espingarda e duas pistolas, as balas eram feitas de ouro e nos polvorinhos em vez de pólvora, havia ouro em pó. Nada disto refreou a sua arrogância, quando se dirigia a Queluz, perguntava sempre se Mr. du Brésil estava.
A 10 de Agosto de 1802 pede passaportes e inopinadamente parte para Paris, mas a 11 de Março de 1803 regressava, pois Napoleão ainda não lhe perdoara. Desta vez fica hospedado no palácio do Largo do Loreto, esta sua nova vinda revela outro traço do seu carácter, em vez da altivez, a persuação e a boa disposição.
Consegue assim a amizade do príncipe, com quem se encontrava regularmente, mantendo mesmo conferências pela noite dentro, numa delas a 18 de Novembro, é estabelecida a neutralidade de Portugal. Acompanhava algumas caçadas reais e em pelo menos uma ocasião foi presenteado com uma lebre.
Para não ficar atrás ofereceu para os aposentos do palácio de Mafra, onde então estava a corte, uma colcha de cama de rendas magníficas. Tornou-se uma personna gratissima para D. João, que não hesitou em apadrinhar um seu filho, que em homenagem recebeu o nome do padrinho, o baptizado ocorreu na capela real da Bemposta a 29 de Setembro de 1803.
Mais uma vez, o príncipe ofertou a Lannes em honra da ocasião, uma prenda avaliada em quatro mil libras esterlinas e três punhados de diamantes, a madrinha deu à mãe do rebento o seu retrato emoldurado em diamantes e encimado por uma coroa. Nessa noite uma grande festa celebrou tão feliz ocasião, salientando-se o contributo de Marcos Portugal, que durante toda a estadia do francês compôs para ele diversas obras.
Estava Lannes neste idílio português, quando já em 1804 recebe a notícia da sua promoção a marechal por ocasião da proclamação de Napoleão como imperador dos franceses. Sentindo-se afastado desta efervescência na capital francesa, aproveita a partida de D. Lourenço de Lima, nomeado embaixador em Paris a bordo da fragata Carlota, para com ele enviar a sua esposa.
Na madrugada do dia 31 de Julho, também Lannes deixa Lisboa e o seu cargo, não mais aceitando voltar apesar das insistências de Tayllerand, ministro dos negócios estrangeiros.