28.3.07

O assalto ao bergatim Gaivota.

A alguns metros do edifício da direcção dos faróis, existe um monumento algo singelo, mas bem visível a quem todos os dias passa pela marginal, no sentido de Cascais para Lisboa. Poucos saberão que aí está mais um monumento a um soldado caído durante a Primeira Invasão Francesa.
O episódio conta-se em poucas palavras: Conway Shipley capitão da marinha britânica, foi encarregue no dia 22 de Abril de 1808, da captura do bergatim Gaivota, que estava acostado na zona de Belém. Esta embarcação tinha 24 peças e tinha sido lançada à água em 1792, sendo utilizada essencialmente em patrulhas costeiras. Quando se procurou reunir o maior número possível de navios para o embarque da família real em direcção ao Brasil, muitos foram os que por necessitarem de grandes reparações ficaram para trás e, também os que não se julgava aptos para enfrentarem o alto mar, caso do Gaivota.
Os poucos que puderam ser reparados, foram depois reagrupados pelos franceses numa mini esquadra, mas a mesma nunca pôde sair da barra do Tejo, dado o bloqueio imposto pelos ingleses, é que estava ainda fundeada no rio uma esquadra russa, que segundo o tratado de Tilsit, era agora inimiga.
O almirante Cotton, o comandante inglês, gostava de "provocar" os franceses sempre que podia e esta foi mais uma dessas ocasiões, confiando na experiência que Shipley tinha em assaltos deste género, uma vez que tinha realizado dois idênticos nas Canárias.
Assim aproveitando a escuridão, escaleres dos navios La Nymphe e Blossom subiram o rio, avançaram muito lentamente, pois era essencial esperar pelo fim da maré cheia, para depois com a vazante poderem escapar com maior rapidez. No entanto os franceses esperavam ataques deste tipo e não só lançaram redes em volta do Gaivota, como tinham baterias prontas a actuar em caso de alarme.
E se de início tudo parecia correr pelo melhor, com a aproximação a decorrer sem incidentes, depois, a escalada deveras acidentada da amurada, levou à perda do efeito de surpresa e começaram os disparos que atingiram logo Conway Shipley.
Os seus camaradas, julgando-o apenas ferido procuraram socorrê-lo o que mais atrapalhou quem vinha nos outros escaleres e por isso o ataque acabou frustado, com os ingleses a terem de recolher à sua frota. Alguns dias depois o corpo do oficial deu à costa no local onde se encontra o monumento.
Acrescente-se que o mesmo não é consagrado a este ataque falhado, mas sim a Shipley, um herói do seu tempo, que alistando-se aos 12 anos, subiu por mérito próprio na hierarquia da marinha e foi o autor de ataques temerários e bem sucedidos ao longo da sua carreira. Morre em combate aos 25 anos de idade.