17.7.07

Napoleão 1.

Tenho assistido ultimamente a muitas discussões sobre esta personagem, que quase 200 anos após a sua morte ainda suscita tantas paixões e ódios. Não poderia deixar então de dar o meu contributo para a mesma e tentar também esclarecer alguns pontos que me parecem algo inexactos, num momento em que leio uma notícia de que mais um recorde foi batido, com a venda por 4.1 milhões de euros do sabre que usou em Waterloo.
De herói a monstro, de tudo um pouco chamam a Napoleão, mas gostaria de começar pelas importantes reformas que introduziu e que tiveram um impacto muito para além das fronteiras de França, sentido até aos dias de hoje. Começando pela economia, foi durante a sua governação que foi criado o Banque de France, único que podia emitir moeda, levando à redução da inflação e à implementação de medidas proteccionistas que em muito contribuiram para o fortalecimento da indústria e do comércio.
Talvez a reforma mais importante tenha sido a introdução do Código Civil em 1804, onde estava consagrado o direito à propriedade, à liberdade individual e a igualdade de todos perante a lei, já o Código Penal instituído em 1809 vigorou em França até 1994. Na educação começou-se tudo do zero, formando-se cidadãos em termos de comportamento moral, político e social. Finalmente consagrou-se a supremacia do Estado sobre a Igreja, por exemplo entre várias reformas, o casamento passou a constar de dois actos, o civil e o religioso e os bispos eram nomeados pelo governo. Mais tarde o próprio escreveu que, a sua maior glória não foi ter ganho 40 batalhas, Waterloo tudo apagaria, mas nada apagaria o seu Código.
Um facto curioso é o de no seu casamento com Joséphine não ter havido descendência e por isso foi negociado um outro com a filha do imperador austríaco, assim ao abrigo do novo código, este foi o primeiro divórcio a ser decretado em França.
Anteriormente já tinham existido um conjunto de reformas que estabilizaram a administração pública depois dos anos conturbados da Revolução, o que agradou em muito à nova elite burguesa que não só ajudou, como em muito contribuíu para a ascensão de Napoleão a Imperador. Também a população em geral apoiou o seu governo, cansada dos anos sem lei.
Na parte militar, foi sua a reforma que originou a moderna conscrição, modelo depois seguido em todo o mundo, mas foi mais longe, aproveitando ensinamentos anteriores, expandindo-os e mesmo inovando, caso dos corpos de exército que em muito contribuíram para as suas muitas vitórias.
Mais, o papel da cavalaria foi revisto, sendo agora preponderante, os estados maiores foram reorganizados, assim como a artilharia. O objectivo era a mobilidade que pudesse originar a aniquilação do inimigo, para isso as invasões ocorriam num território mais vasto, oferencendo uma plêiade de oportunidades estratégicas e onde as vitórias seriam decisivas.
O nacionalismo e o ideal do Estado Nação, foram impulsionados pelo período napoleónico, afinal a Itália foi pela primeira vez em séculos, unificada num reino único sob a sua égide e a Confederação do Reno que com os seus 40 Estados, veio substituir o Sacro Império com a míriade de 1000 pequenas entidades, foi o primeiro passo para a reunificação Alemã.
Na Polónia o actual hino nacional ainda contém uma referência à sua personagem, sendo aí encarado como um libertador que mostrou qual o caminho a seguir para a independência. Concluíndo, até os seus inimigos lhe reconheceram os méritos, questionado sobre quem seria o melhor general, Wellesley respondeu "Nesta época, na passada e em qualquer outra, Napoleão".