12.7.07

Joaquim José da Silva.

Os últimos anos do século XVIII e os iniciais do século XIX, foram extremamente problemáticos para Portugal, país empobrecido e economica, social e culturalmente atrasado. Ao mesmo tempo foi ainda um tempo de grandes descobertas e grandes feitos.
Porque apesar de todas as dificuldades ainda existiam pessoas brilhantes e com empenho, que tentavam lutar até contra preconceitos e interesses estabelecidos, afinal problemas que já têm 200 anos, ou mais. Joaquim José da Silva inseriu-se nesse grupo.
Natural do Rio de Janeiro, tal como muitos outros seus compatriotas vem para a metrópole para concluir os seus estudos em medicina e em matemática na universidade de Coimbra. Com mais dois colegas integra durante algum tempo o Real Gabinete da Ajuda, que possuía uma imponente biblioteca.
O seu objectivo, ao qual dedicou 4 anos da sua vida, era a preparação de uma expedição ao Brasil, tendo em vista uma melhor compreensão da sua história natural, no entanto, a nomeação para secretário do governo em Angola veio frustrar um pouco estes planos.
Para minorar a situação, foi-lhe concedida a oportunidade de manter aí as funções de naturalista e assim na primavera de 1783, parte de Lisboa com Angelo Donati, um artista e naturalista e José António, um artista. A viagem dura 4 meses e a primeira contrariedade surge logo em Benguela, onde durante a escala de 19 dias morre Donati, pelo que são muito escassos os seus trabalhos conhecidos.
Já instalado em Luanda, parte pouco depois numa expedição ao rio Dande, em Cabinda, de onde envia para Lisboa os primeiros espécimes que recolhe e que incluíam minerais, um herbário, os cornos de uma cabra de montanha e uma nova espécie de manatim. Novo azar atinge-o então, com a morte em Massangano do único artista que restava, José António, após doença prolongada.
Entre 1784 e 1785 tem que permanecer nas suas funções junto do Governo da colónia, mas em Maio desse úlitmo ano juntou-se a uma expedição militar que tinha por objectivo a descoberta da foz do rio Cunene. Durante dois anos percorreu o interior, no Sul de Angola, mas não foi possível concretizar essa descoberta devido à seca, mas também aos ataques das tribos locais.
Conseguiu apesar das muitas dificuldades, preparar um mapa, que incluía um diário da expedição e ainda trouxe consigo duas caixas com minerais e exemplares da flora da região. Os seus envios mantêm-se de forma mais ou menos regular até 1787.
Nesse ano pede permissão para regressar a Lisboa, ou então para poder regressar ao Rio de Janeiro, mas a resposta tardava, afinal a burocracia era e é lenta, o que o leva a decidir-se por permanecer em Luanda e a casar-se. Muito pôde então agradecer o real gabinete ao seu trabalho, entre 1790 e 1791, por exemplo envia aves e em 1792 envia uma hiena.
A partir desse ano concentra-se nas plantas que poderiam ter um interessante potencial económico, caso de algumas variedades de algodão, várias espécies de feijão e plantas medicinais, tudo para além dos minerais que sempre expediu.
Em 1794 parte para Ambaca onde se dedica à recolha e organização de colecções botânicas, só regressa a Luanda em 1799 devido às suas precárias condições financeiras, que não lhe permitiam sustentar a familia e prosseguir com os seus estudos científicos.
Temos notícias suas até precisamente ao ano de 1808 e sabe-se que parte das suas colecções foram alvo da cobiça dos franceses e que estão hoje patentes no museu de história natural de Paris, mas será que outra parte não menos importante não permanece encaixotada algures?