14.6.07

Os afrancesados 1.

Nos países ibéricos a existência de grandes impérios coloniais, motivara a instalação nas suas principais cidades de uma numerosa comunidade estrangeira de industriais, mas principalmente de comerciantes. Entre estes eram maioritários os ingleses e os franceses, assim se por um lado podemos falar que ambas estas sociedades estavam algo isoladas e presas nos seus costumes de antigo regime, por outro lado, também é certo que as influências do exterior entravam por este meio.
Sendo certo que apenas uma minoria tinha acesso às mesmas, uma das primeiras e mais duradouras surgiu ao nível do vestuário e as últimas modas provenientes de Paris suscitavam a cobiça entre as classes mais abastadas, embora em público poucos fossem os que se atravessem a usá-las. Foram esses, no entanto, os primeiros a serem apelidados de afrancesados.
Cientes do perigo que constituíam as novas ideias iluministas para a monarquia absoluta, os governos de ambos os países proibiram desde logo certos livros, o vestuário ainda vá, mas pensar-se em construir uma nova sociedade nem pensar.
Nada disso impediu que as novas ideias circulassem, através da troca de correspondência entre uma burguesia e mesmo uma nobreza que tinha relações familiares nos dois lados da fronteira e não era igualmente incomum que os comerciantes franceses, por exemplo, se instalassem em Portugal e em Espanha, assim até livros chegavam às mãos de homens de letras ávidos da sua leitura.
Já desde o tempo do Marquês de Pombal que se sabia que isto acontecia, mas era algo que o governo não podia controlar, dando azo a uma livre troca de ideias, o que não quer dizer que não existisse uma feroz perseguição a todos aqueles suspeitos da sua divulgação.
Aos poucos o termo passou então a ter uma conotação mais perjorativa, acentuada a partir de 1789, data da revolução francesa, mas torna-se necessário evidenciar as notórias diferenças entre todos aqueles que abarngidos por esta conotação, afinal entre eles havia os que desejavam o fim da monarquia e os que apenas desejavam reformar a monarquia, basta relembrar que no próprio governo existiam duas facções.