7.5.07

Dos de Mayo.

Na sequência do motim de Aranjuez, no dia 23 de Março de 1808, o general francês Murat ocupa Madrid. No dia seguinte Fernando VII, aclamado pelo povo depois da abdicação do seu pai, Carlos IV, faz uma entrada triunfal na cidade, mas a situação não ficaria por aí.
Murat exige que ambos partam para Bayonne onde resolveriam as suas disputas sob os auspícios de Napoleão, que serviria como árbitro, Godoy segue-os nessa viagem. É nomeada uma Junta de Gobierno, embora o poder resida efectivamente nas mãos do general francês, relegando a dita para um papel de mero espectador dos acontecimentos.
No dia 23 de Abril, a Junta recebe um pedido de Murat, feito supostamente em nome de Carlos IV, para que também a rainha da Etrúria e o infante Fernando de Paula, fossem enviados para França, pedido que é inicialmente recusado, só sendo finalmente aceite depois da recepção de uma carta de D. Fernando, onde se podia ler que era importante "manter a paz e a harmonia" com os franceses.
O encontro de Bayonne termina com a abdicação de D. Carlos e D. Fernando e diga-se de passagem, que tal acto não foi uma grande contrariedade para nenhum deles. A partir daí tudo se vai precipitar até ao dia 2 de Maio, quando uma multidão se reúne em redor do palácio real de Madrid.
Novamente são postos a circular boatos, desta vez verídicos, em como soldados franceses estavam a levar os restantes membros da família real e se a partida da rainha da Etrúria não causou qualquer comoção, já os preparativos para a do infante e o facto do mesmo ter sido visto numa varanda, leva ao começo da revolta.
Ao grito de ¡Que nos lo llevan!, o povo invade o palácio, o pretexto ideal para Murat enviar os seus granadeiros e alguma artilharia, que abre fogo sobre os revoltosos. A luta estende-se a toda a cidade, os madrilenos armam-se com o que conseguem e os diferentes barrios, liderados por caudilhos mais ou menos espontâneos, procuram organizar-se.
A primeira prioridade é a defesa das portas da cidade, numa tentativa de impedir a chegada do grosso da tropa francesa, acantonada fora da cidade, o pior é que Murat, mais experiente nestes assuntos, já tinha feito chegar a maioria dos cerca de 30.000 homens de que dispunha. Não contava era com uma resistência tão feroz, incapaz no entanto de ser mantida por muito tempo, mas imortaliza pelos quadros de Goya, como La Carga de los Mamelucos.
O dia custou caro aos franceses, mas ainda mais aos madrilenos, porque findas as lutas, iniciaram-se as represálias, Murat aproveita mesmo para impôr uma jurisdição militar e assim através de tribunais sumários liderados por Grouchy, executar centenas de rebeldes.
Refira-se que as unidades militares da capital não têm qualquer tipo de interferência nos acontecimentos, seguindo as ordens do capitão general Francisco Negrete, mantêm-se nos seus aquartelamentos. Excepção feita aos artilheiros que, comandados pelos capitães Luis Daoiz y Torres e Pedro Velarde Santillán, entrincheiram-se no parque de artilharia de Monteléon e chegam mesmo a repelir o primeiro ataque francês, sendo dizimados no segundo.
Murat, tendo como objectivo primordial o controlo de todas as instituições espanholas, depois da repressão e contando com o apoio das classes dirigentes, controla todo o governo, o que não evita que alguns dos sobreviventes, espalhem as notícias dos horrores de Madrid por toda a Espanha.