O comissariado - Commissariat - era dirigido por um comissário geral, que era o único membro civil do exército de sua majestade britânica a receber ordens directamente do Tesouro em Londres. O seu departamento era o mais vital dos sete que eram dirigidos por civis durante a guerra peninsular.
Wellesley escreveu:
É necessário atender a todos os detalhes e traçar a rota de um biscoito desde Lisboa até à boca de um homem na fronteira, providenciar o seu transporte por terra ou por mar ou nenhuma campanha poderá ser levada a bom termo.
Em Portugal era portanto missão do comissariado, através dos seus secretários e intérpretes, organizar armazéns de abastecimento para a tropa contando para isso com uma rede local de talhantes, padeiros, alfaites, sapateiros, etc. Também tinham ao seu serviço guias, condutores com as respectivas carroças e algo como 8.000 mulas.
Todas as brigadas no terreno, fossem de infantaria ou de cavalaria, tinham consigo um comissário assistente e cada regimento tinha um oficial de patente menor encarregue das mesmas funções. Só no quartel general de Wellesley estavam em permanência cerca de 32 funcionários desse departamento. Outros commissários tinham a seu cargo o abastecimento das unidades dos exércitos aliados, portugueses primeiro, a que se juntaram depois unidades espanholas.
Tudo para prevenir roubos que pudessem virar contra o exército britânico a má vontade dos camponeses das regiões por onde passavam e as leis impostas eram durísimas nesses casos, por exemplo, em 1809 um soldado do 18th Hussars apanhado roubar uma casa, foi fuzilado por 20 dos seus companheiros e todo o regimento foi obrigado a assistir. Outros castigos implicavam a forca ou o chicote, o que não impedia que estas situações ocorressem na mesma.
Por melhor que fosse a organização, a distância implicava sempre dificuldades em fazer chegar os abastecimentos, quer pelas dificuldades apresentadas pelo terreno, quer pela inexistência de estradas. No dia a dia da viajem, os comissários tinham ainda que manter uma vigilância permanente, para prevenir deserções de condutores, roubos, assassínios ou brigas com os soldados que compunham a escolta e que ignoravam as suas ordens, por não verem na figura mais do que um civil com um chapéu fino. Atrasos poderiam implicar que uma brigada ficasse sem comer durante dias, o que aconteceu a partir de Talavera em 1809.
Os carros pesadíssimos que originalmente vieram de Inglaterra para fazer o transporte de mantimentos, tiveram que ser substituídos pelos portugueses, que carregavam "apenas" 500 kg e rangiam por todos os lados, mas que eram os únicos que podiam atravessar terras onde nem sequer existiam estradas, ficando os outros carros confinados aos locais onde as mesmas existiam, efectuando principalmente o transporte de feridos.
O soldado que se alimentava de manhã, com alguma sorte se o inimigo não estivesse nas proximidades a comida era servida quente, sabia que só pelo final do dia, após a batalha ou a marcha, poderia voltar a comer novamente e se não tivesse nada, paciência.