A magnífica Ópera do Tejo, como era popularmente conhecida, Teatro Real do Paço da Ribeira de seu nome oficial abre as portas em Abril de 1755, situada entre o Terreiro do Paço e o Cais do Sodré, era das mais luxuosas e inovadoras do seu tempo, mas apenas 7 meses depois entra em colapso com o terramoto.
Em sua substituição, o Teatro de S. Carlos abre as portas ao público pela primeira vez a 30 de Junho de 1793, com a representação da obra La ballerina amante, da autoria de Domenico Cimarosa, um italiano, tal como todo o elenco. Aliás todo o panorama operático português estava dominado por nacionais deste país, o próprio espaço seguia a traça do La Scala de Milão, algo que só viria a mudar com a chegada dos franceses em 1807.
Mas nos primeiros anos relativamente calmos do século XIX, Lisboa era frequentada por cantores e autores que aí encontravam alguma tranquilidade, algo que rareava numa Europa em convulsão. Em 1801 o S. Carlos vivia uma das suas épocas mais brilhantes, possuíndo mesmo duas companhias permanentes - uma buffa, ou seja cómica, dirigida por Valentino Fioravanti e com algumas das grandes vozes do momento como a do baixo Giuseppe Naldi, ou da soprano Elisabetta Gafforini e outra seria dirigida por Marcos Portugal que contava com o "castrado" Girolamo Crescentini, a soprano Angelica Catalani e o tenor Domenico Mombelli.
Pena que a partir de 1805 um ou outro tenha regressado a Itália, embora a maioria tenha escolhido Londres para prosseguir as suas carreiras. Destaque para Angelica Catalani que nessa cidade canta três obras de Marcos Portugal, uma delas La morte de Semiramide e em particular a ária Son Regina, tornar-se-ia mesmo no seu "tema", cantando-o por diversas vezes.
Regressando a 1807, a missão dos franceses era essencialmente militar, mas uma ocupação / dominio não se faz apenas pela força das armas, a cultura também detinha um papel importante e o S. Carlos recebe um novo impulso. A Ópera era um excelente veículo para as ideias iluministas, e uma das primeiras peças estreadas baseava-se num texto de Stefano Vestris sobre a "Idade da Razão".
Este tipo de propaganda francesa está presente desde Portugal à Polónia, afinal eles não eram conquistadores, eram sim libertadores, vinham libertar os povos da opressão, do despotismo. Traziam consigo o progresso, uma nova sociedade, enfim a felicidade.