19.1.07

União e Revolta.

São escassas as ocasiões na História de Portugal em que podemos efectivamente encontrar toda a sua população unida em torno de uma causa, de um ideal. A crise de 1383 - 85 constitui o primeiro desses momentos de afirmação da nacionalidade, face ao perigo que representava na época a anexação do reino por parte de Espanha, nem o próprio D. Afonso Henriques tinha conseguido essa união para a sua causa - a de fundar um novo país.
Um segundo ocorrerá em 1640, aqui de forma mais lenta, dada a aculturação sentida pelos vários anos de convivência e depois de ocupação espanhola, estando na base da revolta mais as questões económicas do que sociais e políticas. Por isso é também muito discutível dadas as divisões sentidas durante todo o processo.
O terceiro desses momentos e o último até aos dias de hoje, encontramo-lo no período das Invasões Francesas, mas é preciso não esquecer que em finais de 1807 o general Junot, comandante das forças francesas é bem recebido em Portugal, não só por aqueles que na altura eram designados como "afrancesados", ou seja, pessoas que tinham recebido uma forte influência da cultura e da civilização do país de Napoleão, como também por uma larga franja da sociedade.
Os ideiais iluministas tinham-se espalhado como um rastilho pela Europa e só faltava quem lhe puxasse fogo, com a corte a caminho do Brasil e também com as elites fora, os que por cá ficaram sentiram-se abandonados e numa primeira fase acolheram com alguma indiferança os franceses, resolvendo esperar para ver o que dali vinha.
Claro que os inúmeros episódios de atropelo das tradições e costumes, bem como a sobranceria de quem se portava como um conquistador, dispondo de tudo como bem entendia e lançando pesadas requisições e impostos sobre a população, levou aos primeiros focos de revolta. Mas com o país ocupado quer por tropas francesas quer por tropas espanholas, tornava-se difícil qualquer movimento de revolta.
Só após a retirada espanhola é que começaram a sair das sombras os que já há algum tempo contestavam o governo do general Junot e aí o grito foi só um "Morte aos Franceses" e eclodiu de Norte a Sul do país desde o nobre ao camponês mais humilde.
Quanto aos ditos "afrancesados", houve aqueles que permaneceram ao lado de Junot e com ele embarcaram de volta a França em Setembro de 1808, mas a maioria ao assistir aos actos de prepotência e incompetência deste governo, bem como ao adiamento consecutivo da atribuição de uma tão almejada constituição, depressa se descartaram das suas posições iniciais e lutaram ao lado dos demais para expulsar estes invasores.