25.7.07

Bernardim Freire de Andrade (1759-1809).

Nascido em Lisboa, alistou-se no exército depois de ter frequentado o colégio dos nobres, começando como cadete no regimento de infantaria de Peniche, que fazia parte da guarnição de Lisboa. Em 1782 é promovido a alferes da 5ª companhia deste mesmo regimento, onde aliás se mantém até ser promovido a Major.
No ano de 1793, toma parte na campanha do Rossilhão, durante a qual ascende a coronel (1794) e onde se começa a distinguir pelas suas qualidades de comando, chegando a ser ferido no assalto a Madalena. No regresso a casa tem nova recompensa pelos bons serviços prestados, é agora brigadeiro.
Em 1800 é nomeado governador e capitão general de São Paulo, mas então já se iniciavam os preparativos de um conflito que se avizinhava com Espanha e que rebenta em Maio do ano seguinte - a Guerra das Laranjas. Fica assim com o comando de uma brigada do exército do Alentejo, com a qual salva as tropas de Carcome Lobo da destruição, no combate de Arronches.
Pelo prestígio adquirido é convidado a participar nas diversas comissões que tinham por objectivo a reforma do exército, é entretanto promovido a marechal de campo. O ano de 1807 encontra-o no Porto para onde fora nomeado governador de armas da região militar, no entanto, com a entrada dos franceses não permanece por muito tempo no cargo, optando por pedir a sua dispensa, prontamente concedida pelo conselho de regência e retira-se para a sua casa de família.
Já quando estala a revolta, encontrava-se em Coimbra com um seu primo direito, Miguel Pereira Forjaz e juntos viajam para o Porto, onde ocupam cargos de destaque na Junta de Supremo Governo. D. Miguel na parte administrativa e Bernardim na reorganização de um exército desfeito pelos franceses.
Foi com essas forças, mal treinadas e mal equipadas, mas que mesmo assim já ascendiam a perto de 10.000 homens, que iniciou a sua marcha, tendo chegado a Coimbra no dia 5 de Agosto. Pouco depois encontra-se pela primeira vez com o general Wellesley em Montemor o Velho, que perante o estado das forças portuguesas decide incorporar apenas cerca de 1500 homens nas suas fileiras, mas cede armas e alguns abastecimentos.
Ficou estabelecido que os portugueses protegeriam o flanco dos ingleses que marchariam para Sul junto à costa, Wellesley não contava com este auxílo, pois sabia perfeitamente que por mais vontade e patriotismo que os portugueses demonstrassem, só isso não seria suficiente para fazer frente aos franceses. Utilizava então todos os pretextos possíveis para demorar a sua marcha, caso da paragem em Leiria, por sua recomendação e para que se pudesse complementar o pouco treino.
Tudo somado fez com que Freire não participasse em nenhuma das batalhas e quando chega finalmente à zona de Torres Vedras, já os príncipios do que viria a ser conhecido por Convenção de Sintra tinham sido acordados, de nada valendo os seus protestos.
Regressado ao cargo de governador militar do Porto, em 1809 recebe a missão de defesa do Minho, já na 2ª invasão francesa, tendo a regência indicado quais os lugares que deveria defender. Tal não foi possível devido à rapidez do avanço inimigo e à continua escassez de homens treinados e de armas, mesmo assim consegue impedir a passagem de Soult por Caminha, não impedindo todavia a invasão de Trás os Montes.
Tentou ainda, em diversos reconhecimentos entre Braga e Ruivães, escolher um local adequado onde pudesse montar uma linha de defesa, depara-se com imensas dificuldades, que começavam na indisciplina que ainda reinava no seu exército e decide então a retirada para o Porto. Os seus homens extremamente permeaveis às influências dos habitantes da zona, são levados a crer que ele estava a abrir o caminho para os franceses e prendem-no.
Ainda conseguiu salvar-se de uma primeira situação complicada, pela mão de António Bernardo da Silva, comandante de ordenanças, que travou os ímpetos dos que acusavam Bernardim de colaboracionista e de ter entregue o país aos franceses, mas mais à frente nada pôde fazer quando milícias, misturadas com camponeses o quiseram linchar pelos mesmos motivos.
Por mais uma vez valeu-lhe o Barão de Eben, que comandava um regimento sedeado no Porto, e que o queria levar para o seu quartel, o pior é que a pequena escolta que deixou foi insuficiente para conter a população e no dia 18 de Março é assassinado juntamente com o seu quartel mestre general Custódio José Gomes Vilas Boas, perto de Braga.

19.7.07

Curiosidades.

Na rotunda do Castelo do Queijo, no Porto, está uma imponente estátua equestre de D. João VI da autoria de Salvador Carvão da Silva d'Eça Barata Feyo, reputado escultor, com larga obra espalhada pelo país e que foi igualmente director do Museu Nacional Soares dos Reis.
É a réplica de uma outra que tinha sido oferecida pelo governo de Portugal à cidade do Rio de Janeiro, inaugurada pela ocasião das comemorações do 4º centenário desta cidade em 1965. Ainda hoje lá está na praça 15 de Novembro, onde se localiza o antigo Paço Real.
Logo no ano seguinte e assim que ficou pronta, Junho de 1966, foi a vez desta ser inaugurada, mas inicialmente encontrava-se na praça Gonçalves Zarco, não resistiu portanto às renovações que se vão, bem ou mal, fazendo nas nossas cidades.
O que é caricato é que quando foram concluídas as obras na dita rotunda, não houve o cuidado por parte dos autores das mesmas em recolocar D. João a olhar na direcção do Brasil, tal como estava anteriormente. Pormenor de somenos, talvez para alguns..........

17.7.07

Napoleão 1.

Tenho assistido ultimamente a muitas discussões sobre esta personagem, que quase 200 anos após a sua morte ainda suscita tantas paixões e ódios. Não poderia deixar então de dar o meu contributo para a mesma e tentar também esclarecer alguns pontos que me parecem algo inexactos, num momento em que leio uma notícia de que mais um recorde foi batido, com a venda por 4.1 milhões de euros do sabre que usou em Waterloo.
De herói a monstro, de tudo um pouco chamam a Napoleão, mas gostaria de começar pelas importantes reformas que introduziu e que tiveram um impacto muito para além das fronteiras de França, sentido até aos dias de hoje. Começando pela economia, foi durante a sua governação que foi criado o Banque de France, único que podia emitir moeda, levando à redução da inflação e à implementação de medidas proteccionistas que em muito contribuiram para o fortalecimento da indústria e do comércio.
Talvez a reforma mais importante tenha sido a introdução do Código Civil em 1804, onde estava consagrado o direito à propriedade, à liberdade individual e a igualdade de todos perante a lei, já o Código Penal instituído em 1809 vigorou em França até 1994. Na educação começou-se tudo do zero, formando-se cidadãos em termos de comportamento moral, político e social. Finalmente consagrou-se a supremacia do Estado sobre a Igreja, por exemplo entre várias reformas, o casamento passou a constar de dois actos, o civil e o religioso e os bispos eram nomeados pelo governo. Mais tarde o próprio escreveu que, a sua maior glória não foi ter ganho 40 batalhas, Waterloo tudo apagaria, mas nada apagaria o seu Código.
Um facto curioso é o de no seu casamento com Joséphine não ter havido descendência e por isso foi negociado um outro com a filha do imperador austríaco, assim ao abrigo do novo código, este foi o primeiro divórcio a ser decretado em França.
Anteriormente já tinham existido um conjunto de reformas que estabilizaram a administração pública depois dos anos conturbados da Revolução, o que agradou em muito à nova elite burguesa que não só ajudou, como em muito contribuíu para a ascensão de Napoleão a Imperador. Também a população em geral apoiou o seu governo, cansada dos anos sem lei.
Na parte militar, foi sua a reforma que originou a moderna conscrição, modelo depois seguido em todo o mundo, mas foi mais longe, aproveitando ensinamentos anteriores, expandindo-os e mesmo inovando, caso dos corpos de exército que em muito contribuíram para as suas muitas vitórias.
Mais, o papel da cavalaria foi revisto, sendo agora preponderante, os estados maiores foram reorganizados, assim como a artilharia. O objectivo era a mobilidade que pudesse originar a aniquilação do inimigo, para isso as invasões ocorriam num território mais vasto, oferencendo uma plêiade de oportunidades estratégicas e onde as vitórias seriam decisivas.
O nacionalismo e o ideal do Estado Nação, foram impulsionados pelo período napoleónico, afinal a Itália foi pela primeira vez em séculos, unificada num reino único sob a sua égide e a Confederação do Reno que com os seus 40 Estados, veio substituir o Sacro Império com a míriade de 1000 pequenas entidades, foi o primeiro passo para a reunificação Alemã.
Na Polónia o actual hino nacional ainda contém uma referência à sua personagem, sendo aí encarado como um libertador que mostrou qual o caminho a seguir para a independência. Concluíndo, até os seus inimigos lhe reconheceram os méritos, questionado sobre quem seria o melhor general, Wellesley respondeu "Nesta época, na passada e em qualquer outra, Napoleão".

14.7.07

Alpedrinha.

As revoltas do período da primeira invasão perdem-se aos poucos na memória, quase 200 anos passados sobre os acontecimentos e, especialmente quando decorrem em pequenas localidades, pouco ou nada se escreve já sobre as mesmas.
Daí um dos objectivos destes artigos, não deixar cair no esquecimento o que se passou entre 1807-1808, anos fundamentais para uma refundação da identidade portuguesa, pois não é o exército que lídera o combate aos "usurpadores", são as populações locais que em primeiro lugar o fazem ao aclamarem o príncipe regente e ao hastearem novamente a bandeira nacional.
As vitórias inglesas são de extrema importância e em muito contribuem para a expulsão final dos franceses, mas estas revoltas, mesmo com pesadas perdas para as populações, em muito influem também para o resultado final, ao darem a entender ao inimigo que o país não mais aceitaria de ânimo leve a sua presença.
Alpedrinha, no dia 5 de Julho de 1808, assistiu a mais um dessas violentas entradas do general Loison, que pretendia desse modo incutir um terror tal nos populares, que estes não mais se revoltariam contra o governo francês. Os resultados seriam sempre inversos, mas nada disso impedia as atrocidades, diversas casas foram saqueadas e depois queimadas, estimando-se que 31 pessoas tenham perecido neste dia.
A economia nacional já de si muito depauperada, muito dificilmente recuperou depois de destruída parte da sua capacidade de produção agricola e mesmo a insipiente indústria sofreu. Para além das repercussões que se sentiriam por muitos anos com a degradação dos solos, a ruína de muitas das estradas e pontes, a perda de gerações, etc.
Não será esta, no entanto, uma razão suficientemente forte para que haja quem escreva que estas comemorações, a acontecerem, seriam de choro, isso é demonstrar um total desconhecimento da história, é não ter aprendido nada com o passado, afinal uma das grandes lições que a História pode dar.
É finalmente desconhecer, que a construção da democracia portuguesa começou à quase 200 anos, no dia 30 de Novembro de 1808, quando o general Junot chegou a Lisboa. Caminho longo esse e trilhado à custa do sacrifício de muitos, mas afinal não valeu a pena?

12.7.07

Joaquim José da Silva.

Os últimos anos do século XVIII e os iniciais do século XIX, foram extremamente problemáticos para Portugal, país empobrecido e economica, social e culturalmente atrasado. Ao mesmo tempo foi ainda um tempo de grandes descobertas e grandes feitos.
Porque apesar de todas as dificuldades ainda existiam pessoas brilhantes e com empenho, que tentavam lutar até contra preconceitos e interesses estabelecidos, afinal problemas que já têm 200 anos, ou mais. Joaquim José da Silva inseriu-se nesse grupo.
Natural do Rio de Janeiro, tal como muitos outros seus compatriotas vem para a metrópole para concluir os seus estudos em medicina e em matemática na universidade de Coimbra. Com mais dois colegas integra durante algum tempo o Real Gabinete da Ajuda, que possuía uma imponente biblioteca.
O seu objectivo, ao qual dedicou 4 anos da sua vida, era a preparação de uma expedição ao Brasil, tendo em vista uma melhor compreensão da sua história natural, no entanto, a nomeação para secretário do governo em Angola veio frustrar um pouco estes planos.
Para minorar a situação, foi-lhe concedida a oportunidade de manter aí as funções de naturalista e assim na primavera de 1783, parte de Lisboa com Angelo Donati, um artista e naturalista e José António, um artista. A viagem dura 4 meses e a primeira contrariedade surge logo em Benguela, onde durante a escala de 19 dias morre Donati, pelo que são muito escassos os seus trabalhos conhecidos.
Já instalado em Luanda, parte pouco depois numa expedição ao rio Dande, em Cabinda, de onde envia para Lisboa os primeiros espécimes que recolhe e que incluíam minerais, um herbário, os cornos de uma cabra de montanha e uma nova espécie de manatim. Novo azar atinge-o então, com a morte em Massangano do único artista que restava, José António, após doença prolongada.
Entre 1784 e 1785 tem que permanecer nas suas funções junto do Governo da colónia, mas em Maio desse úlitmo ano juntou-se a uma expedição militar que tinha por objectivo a descoberta da foz do rio Cunene. Durante dois anos percorreu o interior, no Sul de Angola, mas não foi possível concretizar essa descoberta devido à seca, mas também aos ataques das tribos locais.
Conseguiu apesar das muitas dificuldades, preparar um mapa, que incluía um diário da expedição e ainda trouxe consigo duas caixas com minerais e exemplares da flora da região. Os seus envios mantêm-se de forma mais ou menos regular até 1787.
Nesse ano pede permissão para regressar a Lisboa, ou então para poder regressar ao Rio de Janeiro, mas a resposta tardava, afinal a burocracia era e é lenta, o que o leva a decidir-se por permanecer em Luanda e a casar-se. Muito pôde então agradecer o real gabinete ao seu trabalho, entre 1790 e 1791, por exemplo envia aves e em 1792 envia uma hiena.
A partir desse ano concentra-se nas plantas que poderiam ter um interessante potencial económico, caso de algumas variedades de algodão, várias espécies de feijão e plantas medicinais, tudo para além dos minerais que sempre expediu.
Em 1794 parte para Ambaca onde se dedica à recolha e organização de colecções botânicas, só regressa a Luanda em 1799 devido às suas precárias condições financeiras, que não lhe permitiam sustentar a familia e prosseguir com os seus estudos científicos.
Temos notícias suas até precisamente ao ano de 1808 e sabe-se que parte das suas colecções foram alvo da cobiça dos franceses e que estão hoje patentes no museu de história natural de Paris, mas será que outra parte não menos importante não permanece encaixotada algures?

1.7.07

Mapa.

Carta itinerária militar, que contém ainda a topografia da região a Norte de Lisboa, esboço de Neves Costa, 1809-1810. (Direcção dos Serviços de Engenharia)